#011 – O Poder de Fazer Perguntas

A qualidade da sua vida inteira depende da qualidade das perguntas que você faz e com qual consistência as faz.

O estoico e imperador Marco Aurélio já dizia:

“A felicidade da vida depende da qualidade de nossos pensamentos.”

E não há nada que nos faça pensar tanto quanto uma pergunta, ainda mais uma boa pergunta.

As perguntas são como chaves mágicas que desbloqueiam respostas poderosas e é isso que falta na sua vida.

O motivo de você talvez estar ansioso, triste, sem dinheiro, sentindo um vazio, com dificuldades, procrastinando, com medo, inseguro e todos os outros problemas que você tem é porque faltam respostas, falta entendimento e isso acontece porque você não está fazendo as perguntas certas.

Neste episódio, vou mostrar o poder de fazer perguntas e direcioná-lo por algumas que considero de extrema importância e que faço quase todos os dias.

Vamos lá?

Uma pergunta bem feita.

É só isso que você precisa para mudar completamente sua vida para melhor…

ou para pior.

As mudanças mais radicais da minha vida começaram com uma simples pergunta, um simples questionamento.

Muitas começando… E se eu…

As perguntas têm a capacidade de ativar nosso cérebro para trabalhar constantemente a fim de encontrar as respostas que buscamos.

O problema é que, por desconhecer esse poder, muitas vezes fazemos as perguntas erradas, e essas perguntas erradas são responsáveis por quase tudo de ruim que nos acontece.

Por isso, preciso alertá-lo sobre a armadilha do episódio de hoje.

A técnica de fazer perguntas poderosas que vou ensinar hoje é simples, mas exige trabalho e, por isso mesmo, é bem provável que você evite.

Antes de começarmos, porém, quero deixar um importante pré-requisito: abra sua mente e escute o que vou falar com a mente de principiante.

Alan, o que é a mente do principiante?

Falarei sobre ela em um episódio futuro e como desenvolvê-la, mas basicamente é uma mente vazia de pré-julgamento.

Ou seja, você vai escutar o que vou falar como se estivesse ouvindo pela primeira vez.

Alan, mas estou ouvindo esse episódio pela primeira vez.

Mas é bem provável que o que vou falar você já tenha lido ou ouvido alguma vez na vida.

E isso faz com que você ache que já sabe, que já entendeu.

Então esvazie seu copo, não só neste, mas em todos os episódios do Vida Lendária.

E não só no Vida Lendária, mas em cada livro, vídeo ou curso que fizer.

Sempre esteja com a mente vazia, com uma mente de principiante, para poder verdadeiramente aprender e consolidar o conhecimento em sua mente.

Para exemplificar, pense em sua mente como um copo.

Se esse copo já estiver cheio, não conseguirei colocar mais nada nele; tudo que tentar colocar vai derramar. Se ele estiver pela metade, consigo preenchê-lo pela metade, mas se estiver vazio, consigo preenchê-lo todo.

Concorda comigo?

Assim é a sua mente: se você acredita que já sabe, deixa de absorver novas informações sobre aquele assunto. Então, tudo o que eu falar aqui, tente absorver como se fosse a primeira vez que está escutando.

Em um próximo episódio, vou me aprofundar neste assunto, na mente de principiante, e vou falar também sobre um coração ensinável. Por enquanto, só preciso de você aqui comigo, presente neste conteúdo. Combinado?

Beleza, então vamos lá.

Você já viu que os mestres ficam insistindo com seus alunos em coisas básicas? No treinamento do Karatê Kid, do filme com o Jack Chan, o exercício era “põe casaco, tira casaco, põe casaco, tira casaco”. Nas minhas aulas de arco e flecha, por muito tempo, foi o posicionamento dos meus pés. Quando eu estudava música, meu professor pediu para eu colocar no fone de ouvido o metrônomo e ficar escutando o dia todo. Se você não sabe o que é um metrônomo, é isso aqui: “SOM DE METRÔNOMO AQUI”. Imagina ficar escutando isso o dia todo.

Todos esses exercícios podem parecer não fazer sentido. E se você não tiver uma mente aberta e não tiver confiança no seu mestre, no seu professor, no seu guia, você vai simplesmente ignorar um pedido tão simples. Mas foi o “tira casaco e põe casaco” que ajudou o Karatê Kid a desenvolver disciplina, velocidade e precisão. Foi o posicionamento certo dos meus pés que me proporcionou apoio para conseguir fazer o movimento certo com meus braços e entender o processo para repetir consistentemente o resultado de acertar a flecha no alvo. E foi escutando esse barulho chato que você acabou de escutar por vários dias que eu comecei a acompanhar as músicas no tempo certo.

Não ignore a base, porque é em cima dela que tudo é construído. E o seu tamanho, o tamanho do seu crescimento, depende do tamanho da sua base. Você já reparou no tamanho das raízes de uma grande árvore, aquelas árvores centenárias que uma pessoa sozinha nem consegue abraçar?

Elas são fortes e profundas, pois se não fossem, qualquer vento forte as derrubaria.

Existe uma árvore gigante na cadeia das Montanhas Brancas, na Califórnia, chamada Matusalém. Essa árvore possui 4.845 anos e, entre vários fatores analisados para entender como ela está viva por tanto tempo, está a sua raiz, uma raiz forte e profunda.

Uma base sólida para sustentar toda a sua grandiosidade.

E o que vou te passar hoje é algo que vai deixar a sua base extremamente sólida se você colocar em prática, permitindo que você cresça sem medo de ventos fortes.

O poder de fazer perguntas certas é uma das habilidades mais importantes que você vai desenvolver ao longo da sua vida e, como tudo, apesar de simples, ela não é fácil de ser praticada.

Na verdade, nós costumamos evitá-las. As perguntas, especialmente as profundas, exigem energia mental, e nosso cérebro evoluiu para economizar energia.

Apesar de ocupar menos de 2% do nosso corpo, o nosso cérebro gasta cerca de 20% da nossa energia, o dobro do que o nosso coração gasta.

E talvez você ache que é muito, mas o nosso cérebro é até hoje a maior capacidade computacional existente no mundo inteiro.

Ou seja, o computador mais potente do mundo não tem a capacidade de processamento que o nosso cérebro possui.

São cerca de 86 bilhões de neurônios e cada um pode ter milhões de conexões.

Estamos falando de mais de dez trilhões de conexões entre células nervosas de um único ser humano. Isso é mais do que o número estimado de estrelas no universo visível.

Para você ter ideia, uma equipe de cientistas japoneses fez um teste com um dos supercomputadores mais poderosos do mundo, um supercomputador com quase 83 mil processadores.

E talvez você pense: esse com certeza é mais potente que a mente humana.

Bom, você se enganou, porque com toda essa potência eles foram capazes de imitar apenas 1% de um segundo de atividade cerebral humana – e isso levou 40 minutos.

Ou seja, um supercomputador com cerca de 83 mil processadores levou 40 minutos para imitar apenas 1% da atividade cerebral que ocorre dentro do seu cérebro.

Você tem noção do que isso significa?

Entre suas duas orelhas, você tem capacidade quase ilimitada de processamento.

Mas se você for à NASA e pegar o computador mais potente deles para jogar UNO, isso não será de grande utilidade, certo?

Mas a mesma coisa acontece com você.

Você está usando esta super máquina biológica que tem capacidade para desvendar os maiores mistérios do universo para fazer coisas triviais, simplesmente porque está dando os comandos errados.

E sabe como você dá comandos para sua mente?

Fazendo perguntas.

Aqui está um insight chave:

As respostas estão dentro de você.

Não fora, da maneira como a maioria das pessoas pensa e busca.

Já reparou que os sábios, sejam eles sábios em filmes, séries, livros ou na vida real, muitas vezes respondem com perguntas?

Já reparou que os psicólogos respondem a você com perguntas?

Como você se sente sobre isso?

E o que isso significa para você? Conte-me mais sobre isso. Dizem eles.

Por que eles fazem isso?

Porque eles sabem que as respostas estão dentro de você.

Só que, quem se atenta a olhar para dentro na busca delas?

Quase ninguém.

Os poucos que continuam como crianças curiosas se perguntando as coisas, são os que obtêm as respostas.

Sabe quantas perguntas uma criança faz por dia?

De 200 a 300 perguntas por dia.

Cerca de 1 pergunta a cada 3 minutos.

Agora, sabe quantas perguntas um adulto faz por dia?

Cerca de apenas 20.

E talvez você pense, “Alan, eu faço muito mais do que 20 perguntas por dia, eu devo me perguntar 20x por dia só o que vou comer”.

Não é deste tipo de pergunta que eu estou falando, este tipo de pergunta é vazia e gera pouco valor. Eu estou falando de perguntas que levam a questionamentos, perguntas que você não consegue responder com sim ou não, perguntas que raramente você consegue responder com poucas palavras, estou falando de questionar.

E questionar é uma capacidade que, com o passar do tempo e a influência negativa do sistema atual de ensino e também de como nossa sociedade funciona, nós infelizmente vamos perdendo.

Temos medo de parecer idiotas e boas perguntas que nós fazíamos antes como:

Por que o céu é azul?

Por que as folhas das árvores são verdes?

Por que as pessoas morrem?

Por que existem pessoas boas e más?

Não fazemos perguntas como essas por puro medo de julgamento.

Também não nos perguntamos por que assumimos alguma suposição, alguma pré-concepção e as aceitamos.

E deixando de questionar, perdemos uma habilidade extremamente poderosa que é a habilidade da contemplação, e sem ela não conseguimos usar nosso supercomputador biológico.

Mas, Alan, eu preciso fazer de 200 a 300 perguntas por dia como uma criança para dar comandos para o meu supercomputador biológico?

Não, você não precisa.

Na verdade, para ter uma Vida Lendária como eu tenho, uma vida dos seus sonhos, com tudo que você sempre sonhou e que deixa um impacto positivo no mundo, você só precisa de 20 perguntas.

Apenas 20 para sua vida inteira.

E talvez você esteja se perguntando agora: de onde saiu este número?

Como você sabe que são só 20?

Eu sou um grande questionador. Acredito que nasci com essa benção ou maldição, dependendo da sua ótica para julgar isso como bom ou ruim. Com o passar do tempo, acabei desenvolvendo ainda mais essa habilidade.

Estou falando isso porque sempre questionei muito as coisas. Chegou uma hora em que resolvi documentar meus questionamentos. Buscando ser essencialista e contemplar apenas as perguntas que realmente fazem sentido para mim, cheguei a 102 perguntas.

São 102 questionamentos que estou conseguindo responder de maneira mais sábia à medida que o tempo passa. A cada dia, a cada livro, a cada conversa, a cada curso, a cada fracasso, a cada frustração, vou me aproximando um pouco mais da resposta para essas 102 perguntas. Elas podem diminuir para 90 ou aumentar para 110, mas acredito que vão ficar por aí.

Antes de gravar este episódio, fiquei horas lendo as perguntas e minhas respostas para cada uma.

Depois de contemplá-las por um tempo, percebi que nem todas são necessariamente práticas. Elas são importantes para mim, mas talvez não para outras pessoas.

Comecei a me questionar: quais perguntas aqui realmente são perguntas universais e que me fizeram chegar ao sucesso em praticamente todas as áreas da minha vida, como tenho hoje?

A resposta? 20 perguntas.

Exatamente isso, a lei de Pareto mais uma vez se mostrando eficaz.

Ela diz que 20% do seu esforço gera 80% do seu resultado, e 80% do seu esforço gera apenas 20% do seu resultado.

Às vezes, 5% gera 95% do resultado, às vezes, 30% geram 70%.

Em essência, a lei de Pareto mostra que existem pontos de alavancagem, pequenas ações que retornam muito mais do que outras. A regra do 80/20 foi certeira mais uma vez quando finalizei a escolha das 20 perguntas mais importantes para uma Vida Lendária.

Então, por isso, cheguei ao número 20.

E esta não é uma regra. Talvez 10 perguntas sejam suficientes para você, enquanto para outra pessoa 30 sejam necessárias.

Cada um de nós é único, mas todos buscamos a mesma coisa: a felicidade.

Queremos nos sentir felizes e para cada pessoa a felicidade pode representar algo totalmente diferente. Para alguns, liberdade; para outros, amor; para alguns, uma vida sem preocupações; para muitos, a família; para outros, as conquistas e, talvez para você, tudo isso e mais um pouco.

Agora eu tenho uma pergunta para você:

Você está em busca da felicidade?

Essa ainda não é uma das 20 perguntas profundas. Se você puder me ajudar, eu quero que você responda com um simples sim ou não.

Responda mentalmente aí.

Você está em busca da felicidade?

Creio que a sua resposta foi sim.

Não foi?

Bom, se a sua resposta foi sim, é por isso que você ainda não é completamente feliz.

Como assim, Alan?

Se você ouviu o episódio #10, “A Vida é Contra Intuitiva”, aprendeu que só se alcança o objetivo quando se para de focar nele e se foca no processo.

Com a felicidade não é diferente. Enquanto você tentar ser feliz, isso vai gerar infelicidade.

Pois apenas o fato de você buscar a felicidade já implica que você não é feliz.

Então, pare de buscar a felicidade e foque no processo que gera felicidade para você.

Alan, qual é esse processo então?

Eu não tenho essa resposta. Cada pessoa tem o seu próprio caminho para realização e a felicidade plena.

Contudo, eu tenho estas 20 perguntas, as quais vão te ajudar a encontrar as respostas que já existem aí dentro de você.

E com essas respostas, o processo para a felicidade vai ficar bem claro.

Preparado para começarmos com as 20 perguntas?

Então, se você estiver na frente do computador, com um papel e caneta próxima ou com o celular, anote estas perguntas. Se você não pode anotar agora, não tem problema. Você provavelmente vai escutar este episódio mais de uma vez, porque ele será um guia para você responder a elas e, como eu já disse, são perguntas que você continuará respondendo para o resto da sua vida.

Vamos lá?

A primeira é:

  1. O que eu realmente quero?

É bem provável que você tenha respondido que quer ser feliz, mas agora que sabe que a felicidade em si não deve ser buscada, e sim o processo que a gera, talvez não tenha respondido da mesma forma.

Mas reflita: o que você realmente quer?

Pergunte a si mesmo em voz alta: o que eu realmente quero?

E neste contexto, deixe esse questionamento ser abrangente.

Ou seja, o que você quer da vida?

Já percebeu que muitos pais perguntam isso para os filhos adolescentes?

O que você quer da vida?

Já me perguntaram isso quando eu era adolescente e já presenciei alguns pais perguntando isso para meus amigos.

Mas sabe por que é injusto perguntar isso para um adolescente e talvez seja injusto perguntar isso para você também?

Porque um adolescente está em fase de construção de sua identidade, ele ainda não é, ele está no processo de se tornar.

Na adolescência, passamos por uma fase de experimentar diferentes identidades psíquicas sem nos apegar, por isso você vê adolescentes representando tantos papéis diferentes em tão pouco tempo.

É pagodeiro, começa a gostar de POP, vira fã de NSYNC e Backstreet Boys, entra para o grupo de dança da escola, começa a gostar de POP Rock, começa a tocar violão, conhece a galera que toca Rock, e por fim acaba virando fã de Hard Rock, como AC/DC, Guns N’ Roses e Bon Jovi.

Esse é um exemplo resumido da evolução de um dos meus gostos musicais e o tipo de música que eu gosto e escuto faz parte da minha identidade, assim como todo o resto que eu gosto e faço.

Nós nunca deixamos de aperfeiçoar esses gostos e interesses.

Mas quando ainda adolescentes, estamos explorando coisas completamente diferentes e nas mais diversas áreas da nossa vida.

E o adolescente que não explora é o adulto reprimido que tem crise de identidade no futuro, porque ele simplesmente cumpriu o papel que alguma autoridade disse que era melhor para ele assumir e ele assumiu.

Essa autoridade pode ser um pai, uma mãe, um avô ou avó, um professor.

Mas o ponto aqui é que é injusto perguntar isso para um adolescente, porque ele ainda não sabe quem é, e nem precisa saber, ele tem que explorar.

Mas se você não é um adolescente, uma pergunta que vai te ajudar a responder a primeira é:

  1. Quem é você?

Esta é a nossa segunda pergunta.

Quem é você?

Não responda com seu nome, profissão ou quem é o pai ou a mãe de fulana, marido ou esposa de ciclana.

No episódio #2, eu mostrei que esses são apenas rótulos e não representam quem você realmente é.

Quem é a pessoa que se esconde por trás desses rótulos?

Se você ouviu o episódio #002, deve se lembrar da seguinte frase:

“Eu não sou quem eu penso que sou, o que eu penso é quem eu sou.”

Você é um fluxo de ideias, normalmente as mesmas que são repetidas inúmeras vezes, até que você começa a acreditar nelas.

Que histórias são essas?

Talvez você conte para si mesmo que é tímido e reforce isso com várias lembranças embaraçosas das vezes em que tentou provar o contrário.

Talvez você conte para si mesmo que não tem jeito para ser empresário e também reforce isso com histórias.

Talvez você esteja contando para si mesmo que não é um bom filho ou filha, talvez que não seja uma boa mãe ou um bom pai, um bom esposo ou uma boa esposa.

Seja lá que histórias você esteja contando para si mesmo, não seria interessante estar consciente destas histórias?

Afinal, são essas histórias que fazem de você quem você é.

E elas não são necessariamente verdadeiras, são, na verdade, uma percepção muitas vezes distorcida da realidade.

E sabe o que costuma distorcer a realidade?

O seu julgamento e nós costumamos julgar as coisas com nossas próprias regras da vida.

Todos nós, ao decorrer da vida, vamos criando uma série de regras na nossa mente.

Nós catalogamos aquilo que não gostamos, aquilo que gostamos.

Aquilo que achamos justo, aquilo que achamos injusto.

E consequentemente, mesmo que de forma inconsciente, nós criamos uma série de regras pelas quais julgamos nós mesmos e os outros.

Agora imagina se você é convidado para jogar um jogo sem saber as regras, parece injusto, não é? Porque você vai ser punido sem nem saber por que está sendo punido.

Assim é a sua vida sem conhecer as suas próprias regras mentais.

Você acaba se auto punindo, muitas vezes se auto sabotando sem nem saber o motivo.

Quer emagrecer, mas continua comendo o que não deveria.

Quer ganhar mais dinheiro, mas tudo o que faz só parece fazer perder mais ao invés de ganhar.

Quer sentir-se melhor consigo mesmo, mas não consegue cumprir os compromissos que faz consigo mesmo.

Estes são apenas alguns exemplos das consequências de jogar um jogo sem conhecer as regras.

E para conhecer as regras na sua própria mente, é importante fazer a seguinte pergunta:

  1. O que você realmente valoriza?

Em outras palavras, quais são seus valores?

Esta é a nossa terceira pergunta lendária.

Conheço poucas pessoas conscientes de seus valores, mas são os valores que guiam suas ações e, por consequência, todos os seus resultados.

Os valores são um dos principais conjuntos de regras que nos ajudam a navegar na vida e somos, em grande parte, consequência deles.

Exemplo:

Alguém que valoriza a igualdade dificilmente terá mansões e carros de luxo, porque essa pessoa está mais preocupada com a desigualdade social e, mesmo se atingir um sucesso financeiro que permita comprar mansões e carros de luxo, dificilmente o fará e, se o fizer em algum momento, vai se sabotar, pois se sentirá uma impostora.

Você já se sentiu um impostor ou impostora alguma vez na sua vida?

Isso aconteceu porque você estava infringindo alguma regra interna da sua mente, provavelmente indo contra um valor seu.

Agora vamos pensar em alguém que valoriza a meritocracia, uma pessoa que acredita no mérito. Ela deu duro, trabalhou por anos, veio de origem humilde e, apesar de tudo estar contra ela, conseguiu atingir sucesso financeiro e, para poder desfrutar deste sucesso, comprou uma mansão, uma casa de praia e um carro de luxo. Ela não vai se sabotar ou se sentir mal por ter comprado estas coisas, na mente dela ela fez por merecer e está tudo certo.

Percebe a diferença entre as duas pessoas?

Elas valorizam coisas diferentes e nem por isso estão erradas.

É bem provável que a primeira acredite em tributar pesado os mais ricos, mesmo que ela seja um deles.

Já a segunda acredita que isso é injusto, pois ela fez por merecer para conquistar tudo o que conquistou.

Os valores moldam nossa perspectiva sobre os fatos e ajudam a fortalecer as ideias que contamos para nós mesmos.

Por isso, é fundamental que você esteja consciente dos seus valores e entenda as consequências deles.

Eu, por exemplo, valorizo a sabedoria. Valorizar a sabedoria significa abrir mão de ter a razão, abrir mão de estar certo e abraçar incertezas e questionamentos. É analisar vários pontos de vista, observar, contemplar…

Sempre fui muito ativo e coloquei muita intenção e energia em tudo que fiz. Mas muitas vezes cometi erros bobos por isso e meu julgamento interno me massacrava. Eu não entendia direito o porquê, até notar que valorizo muito a sabedoria. E a sabedoria não é rápida, ela é lenta, mas certeira. Toda vez que agia rápido e como um tolo, estava sendo incoerente com um valor forte dentro de mim, e essa incoerência agredia minha identidade.

Você não precisa saber como esses valores que possui foram parar aí, mas precisa saber que eles estão aí e você precisa, pelo menos, reconhecê-los. Por isso, até descobrir quais são seus valores, pergunte-se frequentemente:

  • Quais são meus valores?
  • O que valorizo em um relacionamento?
  • O que valorizo no meu trabalho?
  • O que valorizo na vida?

Uma forma que aprendi a reconhecer meus valores foi através do contraste. Por exemplo, detesto conversas vãs e fúteis.

Por outro lado, sempre gostei de conversas que abordam o significado da vida, projetos e história. Qualquer conversa que possa colaborar para meu crescimento e adquirir mais conhecimento é bem-vinda.

Entendi que valorizo a sabedoria.

Sempre achei uma falta tremenda de respeito as pessoas que chegam atrasadas em compromissos agendados ou que não cumprem com o que foi acordado. Eu sempre procuro ser pontual e cumprir com o combinado.

Logo, valorizo o comprometimento.

Eu não suporto estar perto de pessoas que se gabam o tempo todo e não faço questão de falar das minhas habilidades ou conquistas para me engrandecer.

Logo, valorizo a humildade.

Talvez você valorize coisas opostas a essas três. Talvez você valorize a coragem, a coragem para tomar decisões sem precisar pensar tanto. E você lida bem com as consequências, mesmo que sejam negativas. O importante é que você agiu, que foi corajoso.

Talvez você valorize sua liberdade acima da liberdade dos outros e, por isso, não veja problema em chegar atrasado ou não cumprir com o combinado. Eu conheço algumas pessoas assim e elas não se importam se as outras pessoas ficarem chateadas com elas por isso. Elas são assim e ponto final.

Talvez você valorize a autoconfiança e não veja problema em falar sobre suas realizações e habilidades. Na verdade, você acha bonito e legal quando outras pessoas também são confiantes para falar sobre suas habilidades e conquistas.

Independentemente do que você valoriza, é importante que você saiba o que é, pois somente assim você conseguirá parar de se sabotar.

Eu, por exemplo, valorizo a liberdade e, por isso, toda vez que tento criar um processo muito rico em detalhes, me saboto, pois isso, de alguma forma, no meu inconsciente, significa prisão.

Tenho vontade de sair correndo e, consequentemente, acabo me auto sabotando. Já fiz isso inúmeras vezes nas minhas empresas.

Quando crio um planejamento muito complexo, simplesmente largo o projeto, porque isso tira todo o tesão dele para mim.

Agora, imagina o desafio que é para mim ser um empresário que odeia planejamentos.

Imagina como foi ser CEO de uma das maiores empresas do segmento, odiando ter horários semanais de reunião, criando planejamento estratégico tributário, criando planejamento de crescimento, planejamento de marketing.

Tudo isso feria meu valor de liberdade. A única forma que consegui fazer tudo isso e muito bem feito é porque, no final do dia, dizia: “Estou fazendo isso para não precisar fazer nada disso”.

Sempre fiz pela liberdade que isso poderia proporcionar, principalmente a liberdade financeira.

Tenho um controle financeiro dos meus investimentos e do meu patrimônio de dar inveja a muitos contadores, mas não faço isso porque sou organizado. Faço isso porque coloquei na minha cabeça que minha liberdade financeira depende deste controle.

Percebe como apenas um valor pode ter uma influência tão forte em nossas vidas?

E todo valor tem seu lado sombrio.

O valor de liberdade que tenho constantemente está em atrito com meu valor de progresso.

Porque, para ter progresso, muitas vezes, preciso de rotina, de planejamento, mas quando começo a planejar muito, quando começo a ter rotina e um comprometimento com algo que é repetitivo, como o próprio ato de criar os episódios deste podcast, um conflito começa dentro de mim.

Um sentimento de prisão, como se estivesse me tornando escravo de algo, aparece quando este sentimento surge, eu acabo me auto sabotando, começo a procrastinar e me pergunto se é isso mesmo que eu quero fazer.

Talvez você pense: “Alan, por que não se livra deste valor de liberdade e coloca outro que faça mais sentido para você?”

Infelizmente, não é assim que funciona.

Não se trata de fazer uma lista dos valores que você gostaria de ter, mas sim listar aquilo que você valoriza. Valores são algo que estão enraizados dentro de nós.

Eles foram instalados lá no começo do desenvolvimento da nossa identidade e foram sendo reforçados ao longo de toda a nossa vida.

Boa parte de tudo o que eu conquistei, inclusive minha esposa, foi graças a esse valor rebelde de liberdade que existe dentro de mim.

E o fato de conhecê-lo cada vez mais profundamente tem me permitido ressignificá-lo cada vez mais.

Mas isso só é possível pelo fato de conhecer ele e todos os meus valores. Em ordem de prioridade, no momento em que gravo este episódio, os meus valores são:

  1. Família
  2. Sabedoria
  3. Humildade
  4. Progresso (chamava de evolução)
  5. Coerência (conhecido também como integridade)
  6. Gratidão
  7. Autonomia (chamava de liberdade)
  8. Comprometimento
  9. Clareza
  10. Simplicidade

Eu estou resignificando tanto o que é liberdade para mim que até mudei o nome e estou chamando de autonomia em vez de liberdade.

Eu conheço as regras do jogo e está na hora de você conhecê-las também.

Eu venho usando diversas ferramentas diferentes há 6 ou 7 anos para descobrir e me aprofundar nos meus valores, então não consigo dar aqui em poucos minutos uma ferramenta definitiva para você descobri-los.

Mas posso te dar mais uma pergunta que te dará mais clareza sobre eles, que é:

Quais histórias eu venho contando para mim mesmo?

Diversas pesquisas demonstram que nós temos mais de 50.000 pensamentos em um único dia, sendo que mais de 50% deles são negativos e mais de 90% deles são repetidos do dia anterior.

Somos praticamente um eco de ontem, um eco negativo.

Essas histórias reforçam continuamente aquilo que valorizamos, além de ditarem nosso nível de felicidade.

Como eu citei o grande imperador romano Marcus Aurélio no começo deste episódio:

A felicidade da vida depende da qualidade de nossos pensamentos.

E é importante que você conheça quais são essas histórias que você se conta continuamente.

Talvez muitas pessoas já tenham te enganado e você fica repetindo que pessoas não são confiáveis. E isso te faz sempre estar desconfiado, sempre com um pé atrás em tudo que envolve outras pessoas.

Então você valoriza a cautela.

E não me entenda mal, é bom ter cautela.

Mas tudo o que é em excesso faz mal, e uma pessoa que é extremamente cautelosa, nunca toma riscos e é bem provável que nunca saia da zona de conforto, impossibilitando que ela tenha uma vida melhor.

Outro valor que essa pessoa irá desenvolver será a segurança, provavelmente também irá valorizar a privacidade e o anonimato, pois quanto menos exposição ela tiver, menos chances de alguém querer feri-la.

Essa pessoa vai ter o perfil no Instagram bloqueado, isso se tiver Instagram, e vai sempre fugir do palco e dos holofotes. Tudo isso porque ela conta uma história para si mesma: que as pessoas em grande parte não são confiáveis. E tudo o que vai acontecendo vai reforçando essa ideia, não porque ela é necessariamente verdade, mas porque estamos constantemente tentando favorecer eventos que comprovam que estamos certos.

Existe uma palavra no dicionário para isso, e ela se chama Bias: “distorção do julgamento de um observador por estar ele intimamente envolvido com o objeto de sua observação.”

Como eu falei no episódio #006 A Sombra da Ideologia.

Nós vemos o mundo através de lentes e, dependendo da lente que você está usando, você o enxergará com diferentes cores e formatos do que outra pessoa.

Descubra a lente que você está usando simplesmente observando seus pensamentos repetitivos.

Eu tenho adotado um exercício para isso recentemente, que é anotar pelo menos 3 vezes por dia meus pensamentos, sentimentos e emoções naquele momento.

Eu faço isso quando acordo, por volta das 11h da manhã, no final da tarde e às vezes antes de dormir também.

Isso leva apenas alguns minutos, mas consigo ter uma clareza maior dos padrões de pensamentos que venho tendo e, quando não gosto do que estou percebendo, procuro alguma forma de modificar esse padrão.

Outro exercício é escrever em algum lugar todas as suas crenças.

Você pode começar sempre com: “Eu acredito…” e, depois de escrever no que você acredita, coloque o motivo.

Exemplo: “Eu acredito que as pessoas são essencialmente boas, porque mesmo no meio do caos eu vejo muitos atos de bondade.”

Outro exemplo seria:

Eu acredito que as pessoas são más e egoístas, pois todos estão sempre pensando em si em primeiro lugar e, na maioria das vezes, ignoram as necessidades dos outros.

Na minha perspectiva, nenhuma das afirmações que eu fiz está errada.

Mas qual delas vai te fazer bem ficar repetindo?

A primeira ou a segunda?

Mesmo se considerarmos que as duas estão corretas, reforçar a segunda vai te fazer bem ou até mesmo te proteger?

Eu tive meu primeiro mentor aos 21 anos de idade, um cara que criou uma empresa multinacional e tinha carros importados, sede da empresa em diferentes países, vários apartamentos e casas de luxo.

Mas ele acabou perdendo tudo, pois ao longo de 20 anos, o sócio dele enganou-o desviando o dinheiro que deveria ser usado para pagar impostos para o próprio bolso.

Quando a receita descobriu, o valor com multas e juros era maior do que o caixa da empresa e o patrimônio dele somados. O sócio sabia que estava fazendo errado e se preparou para isso, ele não.

Ele perdeu praticamente tudo e demorou 8 anos para confiar em alguém. Esse alguém fui eu.

Aprendi muito com ele. As minhas primeiras grandes lições sobre a vida eu aprendi com ele.

Mas teve algo que ele tentou me ensinar várias vezes e eu resisti, que foi:

Nunca confie em ninguém.

Ele repetiu inúmeras vezes isso para mim e no começo eu até aceitei.

Mas ao notar a vida triste que ele levava por não ter amigos e não se aproximar de ninguém, eu pensei: será que vale a pena reforçar esse pensamento?

Será que vale a pena recontar essa história?

Alguns meses após eu dar aulas de programação para ele, ele me convidou para abrir uma empresa com ele. Uma empresa de entrega online para pizzarias. Era 2011 e não havia ifood, rappy ou nada parecido.

Ele estava trazendo uma tecnologia de catálogo 3D canadense e iríamos fazer os cardápios clicáveis para pagar com Paypal e de alguma forma integrar isso com as pizzarias.

O projeto era interessante e tinha futuro. Ele ainda tinha um capital para poder investir e eu tinha conhecimento para fazer o que era necessário.

Mas em algum momento ele começou a ficar mais distante, retinha informações, começou a limitar meu acesso aos dados da empresa e por fim disse que era melhor pausarmos o projeto.

Eu não entendi. Ele foi muito generoso e me pagou pelo tempo que eu investi no projeto, um valor acima do que eu esperava receber quando ele falou que me pagaria.

Depois de 2 anos, eu comecei a trabalhar em uma empresa de tecnologia próxima da casa dele. Fiquei por semanas pensando em visitá-lo e tentar descobrir o porquê não continuamos. Isso estava me consumindo fazia muito tempo, pois eu acreditava muito no projeto.

Depois de diversas semanas com um conflito interno se visitava ele ou não, eu resolvi ir lá.

Ele tinha trocado o número de telefone e até mesmo o da casa. Não sabia se era para me evitar ou tinha outro motivo.

Mas precisava descobrir…

Fui lá e ele me atendeu. Ficamos conversando na frente do portão dele, diferente de outras vezes que sempre me convidava para entrar e preparava um lanche ou algo para comermos juntos. Mas tudo bem, fazia tempo que a gente não se via. Depois de um tempo conversando de pé, sentamos na calçada e continuamos conversando.

Depois de nos atualizarmos sobre as novidades de cada um, eu resolvi perguntar por que não continuamos com o Pizza Online.

Ele suspirou e desabafou. Ele estava com medo que eu roubasse o projeto. Como ele viu que depois de 2 anos eu não tinha avançado com essa ideia sozinho, que era algo da cabeça dele e não a realidade.

Ele me pediu desculpas por duvidar de mim, justificou contando novamente a história com o sócio dele e eu o desculpei, é claro.

Mas isso reforçou algo que eu já vinha me contando:

Eu prefiro acreditar nas pessoas e ser enganado de vez em quando, do que viver em um mundo onde eu não posso confiar em ninguém.

E olha, eu já fui enganado diversas vezes, já perdi muitas noites de sono, muito dinheiro e muito tempo investindo em pessoas que me passaram a perna.

Mas eu prefiro continuar acreditando nas pessoas.

Mesmo que eu some todo o dinheiro que perdi e todo o tempo que investi em pessoas que me enganaram, ganhei muito mais dinheiro e felicidade por estar aberto a acreditar nas pessoas.

Além disso, o número de pessoas que me fizeram bem é muito maior do que o número de pessoas que me fizeram mal.

Quando observo tanto quantitativamente quanto qualitativamente, vale muito mais a pena confiar nas pessoas do que não confiar.

E essa história eu continuo me contando.

Sem dúvida nenhuma, minha vida seria muito diferente se eu me contasse a mesma história que esse meu mentor se contava.

Provavelmente, não estaria aqui hoje, pois só consegui chegar aqui porque tive mentores, parceiros, sócios e colaboradores do meu lado, pessoas em que acreditei e que acreditaram em mim.

Agora, percebe a importância de observar as histórias que você conta para si mesmo?

Essas histórias geram crenças e valores.

Eles serão repetidos e reforçados ao longo do tempo até se tornarem verdades absolutas para você.

Mas elas não são verdades absolutas, a maioria delas são histórias distorcidas através da sua perspectiva e do tempo em que são contadas.

Já percebeu como uma mensagem que passa por um telefone sem fio chega distorcida no final?

Não é porque você conta essa história para si mesmo que ela continua fiel.

Cada vez que você a reconta para si mesmo, ela é influenciada pelos seus sentimentos e sua perspectiva naquele momento. Além disso, é normal quando vai contar para alguém às vezes dar uma leve aumentada ou romantizar lembranças para que fiquem mais interessantes.

Nossa vontade de estarmos sempre certos não ajuda nem um pouco também. É normal modificarmos, nem que seja levemente, para que a história que contamos a nós mesmos conte que estamos certos.

É um mecanismo de defesa da nossa mente.

O ponto aqui é que você não pode confiar na sua memória, nem nas histórias que você conta para si mesmo.

Porque existe uma boa chance de estar se enganando.

E aqui chegamos à próxima pergunta:

5. Por que e de que forma estou me enganando?

Você já entendeu que de alguma forma está se enganando pelas histórias que conta para si mesmo.

Em grande parte, isso é causado pelo que a ciência cognitiva e a psicologia social chamam de raciocínio motivado.

Eu poderia fazer um episódio inteiro só falando sobre esse fenômeno.

Mas, em resumo, é um fenômeno onde nossas motivações inconscientes, nossos medos, nossos desejos, mudam a forma como interpretamos a informação.

Ao ponto de algumas informações e ideias externas poderem ser vistas como aliadas, são ideias e informações que nós queremos compartilhar, que queremos defender e queremos que vençam.

Já informações e ideias diferentes são tratadas como inimigas e nós queremos evitá-las, muitas vezes até mesmo destruí-las.

Um exemplo claro é na política.

Quem tem um posicionamento X não irá escutar quem tem um posicionamento Y, mesmo que o que a pessoa de posicionamento Y está falando seja relevante para o bem comum de todos.

Se você gosta de futebol, por exemplo, ver o juiz aplicando uma falta no seu time é algo que na maioria das vezes é incorreto, o juiz é um ladrão, juiz comprado.

Mas se ele aplica uma falta no time adversário, foi totalmente justo.

Eu já assisti alguns jogos de futebol e por não ter uma preferência por time eu tinha uma visão das duas partes, quase sempre meus amigos reclamavam igualmente sobre o juiz ter defendido mais o time adversário. Como isso pode acontecer no mesmo jogo?

Isso acontece porque você está altamente motivado a encontrar motivos pelos quais seu adversário está errado.

Nosso julgamento é fortemente influenciado, inconscientemente, para qual lado nós queremos que vença.

E isso forma como lidamos com nossa saúde, nossa educação, em quem votamos, o que consideramos justo ou ético.

E o que é mais assustador é que tudo isso acontece sem percebermos, é inconsciente.

Ou seja, suas crenças, aquilo que você valoriza, aquela história que consolida quem você identifica como seu EU é em grande parte produto de um fenômeno chamado raciocínio motivado, que você não tem controle.

Acontece de forma automática.

E é por isso que é tão difícil de alguém mudar, inclusive você.

Quanto mais reforçamos uma ideia, mais difícil é quebrá-la, não só psicologicamente, mas inclusive fisicamente, pois nossos neurônios criam conexões neurais que são fortalecidas cada vez que pensamos da mesma maneira.

Como uma trilha no meio da floresta que continua aberta, pois as pessoas continuam passando por ela todos os dias.

Em mais de 95% do nosso tempo, estamos trilhando caminhos já existentes, no piloto automático, e reforçando ainda mais esses caminhos.

Na maioria das vezes, as crenças geradas por esse conjunto de ideias são falsas ou têm verdades parciais, mas nosso cérebro está constantemente buscando padrões em experiências anteriores para se sentir seguro. Ele buscará esses padrões em nossas conexões neurais mais robustas, ou seja, nas trilhas que mais fazemos na floresta da nossa mente.

Precisamos entender e aceitar que nossa mente é assim. Na verdade, nosso corpo todo é assim, constantemente em busca de economizar energia. Nossa sobrevivência por muito tempo dependeu disso. Portanto, não é uma falha na nossa mente, é apenas o modo operante dela, o sistema operacional do cérebro.

Mas entender e aceitar que nossa mente é assim não significa que temos que continuar justificando nossas falhas, dizendo coisas como “Eu sou assim e vai ter que me aceitar assim” ou “Pau que nasce torto, morre torto”. Na verdade, já foi comprovado inúmeras vezes que nosso sistema nervoso tem capacidade de mudar, adaptar-se e moldar-se a nível estrutural e funcional. Ou seja, podemos mudar nosso sistema de crenças.

O primeiro passo para qualquer mudança é a consciência. Você só conseguirá mudar aquilo que tiver consciência de que precisa mudar. Por isso, a pergunta 5 que eu escolhi foi: “Por que e de que forma estou me enganando?”

Por exemplo, talvez você esteja dizendo para si mesmo que é tímido e não tem o que fazer sobre isso. Toda vez que você tenta falar em público, passa vergonha e toda vez que tenta se expor, o caminho da timidez é reforçado.

Mas e se você estiver errado?

E se sua timidez, no fundo, é apenas um medo de não ser aceito?

E se sua timidez talvez seja apenas a ausência de habilidades sociais?

E se sua timidez for apenas uma insegurança com sua autoimagem?

Mesmo se você se encaixou nesses três “E SE” que eu falei, é muito mais claro o que você tem que fazer para melhorar do que simplesmente afirmar que é tímido e não fazer nada a respeito.

Quando eu era adolescente, eu tinha muita vergonha de falar em público. Então, eu fazia os trabalhos e pedia para um colega só apresentar na frente. Eu não me importava de fazer toda a pesquisa e todo o trabalho de escrever, desde que eu não precisasse me expor na frente dos outros.

Quando abri minha agência de desenvolvimento de sites, eu precisava vender meus serviços. Eu era todo envergonhado e, apesar de ser muito bom, eu via meus concorrentes venderem serviços bem inferiores por 3, 4x mais do que eu vendia meus serviços.

Eu comecei a observá-los e notei que eles davam palestras em eventos e conquistavam clientes bons após a palestra, clientes que geravam menos incomodação do que os meus e ainda pagavam mais pelo serviço.

De início, eu pensei: “Isso não é para mim, vou tentar achar outra forma”.

Mas eu me fiz uma pergunta mágica.

E se…

E se não for tão ruim assim? E se houver uma forma, uma técnica de fazer isso sem ficar tão ansioso?

Eu entendi como eles conseguiam oportunidades para palestras e, depois de algumas meses tentando, consegui agendar minha primeira palestra. Ela seria às 7h da manhã para um grupo de empresários em uma cidade vizinha. Era uma associação de empresas, então teria muitos clientes em potencial lá.

Não preciso nem dizer que não jantei nem dormi na noite anterior à palestra, de tão ansioso que estava.

O dia começou chovendo muito forte e fiquei muito feliz, pois achei que o evento seria cancelado

Mas minha felicidade durou pouco e, ao questionar a organizadora do evento se ele seria reagendado, recebi a confirmação de que aconteceria de qualquer forma.

Quando cheguei lá e vi os maiores empresários da cidade, o prefeito e vereadores, senti calafrios, dor de estômago, dor de cabeça e tudo o que você possa imaginar. Minhas mãos suavam tanto que tinha vergonha de dar apertos de mão.

Mas fui lá, tentei usar as técnicas que estudei e foi OK. O pessoal gostou, muitos empresários me procuraram no final e finalmente fechei alguns bons contratos.

A partir deste evento, comecei a receber muitos convites para palestrar e logo já estava super à vontade nos palcos.

O friozinho na barriga sempre vem, principalmente em eventos grandes, mas hoje não tenho problema algum em palestrar ou expor minhas ideias na frente de outras pessoas.

A ideia que eu reforçava na minha cabeça era: eles vão me julgar, que eu vou falar coisas erradas, que eu vou me perder no meio da apresentação, que eu vou esquecer os tópicos, ninguém vai gostar, eu não gosto da minha voz e por aí vai.

Eu substituí por:

Nós somos todos iguais, todos nós temos medos, todos cometem erros. Eu não sou melhor ou pior que ninguém e, se eu superar meu medo e falar sobre minhas ideias, vou atrair pessoas que se conectam com elas.

Hoje tenho uma crença totalmente diferente sobre falar em público.

Uma crença muito mais positiva.

Outro exemplo é que talvez você acredite que para você em particular é mais difícil emagrecer do que para outras pessoas.

É algo genético, você tem propensão a engordar, para você é mais fácil ganhar peso mais rápido.

Essa crença eu reforcei por anos para mim. Minha mãe era obesa e toda minha família por parte dela é.

Eu até tentava algumas dietas e alguns exercícios, mas não tinha jeito. Para mim, era praticamente impossível perder peso e continuar em forma.

O esforço que eu colocava parecia ser muito maior do que o esforço das outras pessoas.

Até que, em uma semana no final de 2018, ouvi de três amigos diferentes que eles precisavam parar de emagrecer, pois estavam ficando muito magros.

Eu pensei:

Como assim?

Eu não consigo parar de engordar e os caras querem parar de emagrecer?

Dois desses meus amigos já estiveram acima do peso por um bom tempo e um deles tem toda a família obesa.

E isso deu um curto-circuito na minha desculpa.

Eu pensei:

E se… emagrecer não for tão difícil assim?

E se emagrecer, na verdade, for fácil?

Por que não?

Talvez eu esteja tentando do jeito errado.

Eu comecei a entender a cabeça deles e como eles se relacionavam com a comida e foi o suficiente para eu buscar novas formas de me alimentar.

Levou 8 meses para eu desenvolver um novo hábito alimentar, mas hoje eu tenho um controle muito maior sobre meu peso.

Esse conteúdo mesmo que você está ouvindo saiu de um “E SE”.

Eu sempre me contei que existiam pessoas melhores do que eu para tratar desses assuntos que abordo aqui. Que eu não era qualificado o suficiente para falar sobre assuntos mais complexos que envolvem cognição, padrões comportamentais ou questionamentos filosóficos, afinal, não sou neurocientista, psicólogo e nem tenho formação em filosofia.

Mas eu me perguntei…

E se isso é só uma desculpa?

E se isso é só medo de me expor?

E se for só medo de errar?

Por que não começar?

E aqui estou eu, apesar de ler artigos científicos, pesquisar muito sobre cada dado analítico ou fato que eu falo aqui e ainda confirmar os dados com algum amigo ou amiga minha especialista na área, seja um médico, neurocientista, filósofo ou psicólogo.

Apesar de tudo isso… eu sei que vou cometer erros, pode ser um dado estatístico ultrapassado ou algo que acabou sendo distorcido pelo meu viés. Mas não faz sentido eu guardar todo esse conhecimento só para mim pelo medo. A satisfação que eu tenho ao criar um episódio como esse por si só já é recompensadora. Porque eu precisei refletir muito para achar formas de expressar ideias complexas de forma simples, o que faz com que eu aprenda ainda mais o que estou ensinando.

Além disso, recebo quase todos os dias feedback de pessoas que de alguma forma mudaram suas vidas pelo conteúdo que eu ensino aqui. Mas como quase toda transformação que tive na minha vida, ela começou com um simples “E se?”, seguido de um “Por que não?”. Essa união te trará clareza para aquilo que está te segurando, o te impedindo de fazer aquilo que você sabe que deveria estar fazendo.

E aqui vem a pergunta número 6.

  1. O que eu deveria estar fazendo?

Sinceramente, a maioria de nós sabe o que tem que fazer, mas não faz. Você sabe que precisa aprender inglês, mas não estuda. Você sabe que precisa emagrecer, mas não cuida da alimentação nem pratica exercícios. Você sabe que precisa dar mais atenção para a família, mas se enfia cada vez mais no trabalho. Você sabe que deveria ler mais, mas ao invés de ler, fica assistindo Netflix.

Por isso, essa é a pergunta que eu quero que você se faça. O que eu deveria estar fazendo? Não estou dizendo agora. Agora, a melhor coisa que você pode fazer é continuar escutando esse episódio. Estamos na pergunta 6 e ainda faltam 14 para você. Mas o que você deveria estar fazendo no seu dia a dia? E estenda essa pergunta para o que você deveria estar fazendo mais. Talvez você já se exercite, mas poderia se exercitar mais, ler mais, estudar mais, descansar mais, aproveitar mais. Deixe extremamente claro o que você precisa ou deve fazer.

Eu, por exemplo, fiz uma lista de tudo o que eu preciso fazer e depois organizei tudo na minha agenda no Google Calendar. Tempo para me exercitar, tempo para ler e estudar, tempo para me alimentar, para suplementar, para trabalhar em cada área. Isso não quer dizer que eu siga à risca a minha agenda, mas ficou muito mais fácil fazer tudo aquilo que eu sei que preciso fazer uma vez que tenho meu tempo organizado para isso.

Mas eu não usei essa pergunta só para organizar minha agenda. Eu me faço essa pergunta todos os dias antes de começar qualquer atividade da minha empresa. Eu deveria estar fazendo isso? O que eu deveria realmente estar fazendo? Isso me permite corrigir a rota com muito mais velocidade. E depois que você começar a se fazer essa pergunta com frequência, eu te convido a fazer uma bem similar, mas sutilmente diferente.

Nossa pergunta número 7:

O que se eu não fizer eu me arrependerei no futuro? Ou, em uma versão com uma conotação um pouco mais agressiva, mas com o mesmo significado: Do que vou me arrepender de não ter começado hoje?

As coisas mais importantes da vida seguem o efeito composto, ou seja, elas precisam ser feitas aos poucos e você só consegue ver o resultado daqui a algum tempo, não tem efeito imediato. Por exemplo: ter um relacionamento verdadeiro e profundo, ter um corpo saudável e bonito, construir um estilo de vida, conquistar independência financeira através de investimentos sólidos. Tudo isso leva tempo.

E se você não começar hoje, você provavelmente se arrependerá daqui a 6 meses, 1 ano, 5 anos. Te garanto que tem muita coisa que você pensa: “Puts, por que eu não comecei isso antes?”

Você está fazendo a pergunta errada. O tempo que passou não volta mais. Não adianta ficar perguntando para o seu eu do passado. Faça a pergunta do seu eu do futuro. Tente se ver daqui a 6 meses, 1 ano, 5 anos e se pergunte: o que eu gostaria de ter começado?

Essa pergunta me ajudou a consolidar vários comportamentos que geraram juros compostos, alguns literalmente. Porque lá em 2017, quando ainda a maior parte do meu patrimônio era usado como recurso para investir em Facebook Ads, eu me fiz a pergunta: “Do que vou me arrepender de não ter começado hoje?”

A minha resposta foi: “De não entender sobre investimentos e não ter começado a minha carteira para ter liberdade financeira.” Eu me joguei de cabeça, fiz todos os cursos de finanças e comecei a montar uma carteira que hoje me permite ter não só liberdade financeira, mas também não me dá dores de cabeça e com uma rentabilidade bem acima do mercado. Mas tudo começou com essa pergunta.

Então, depois de explorar as reflexões com a pergunta “Eu deveria estar fazendo isso?”, avance para a “Do que vou me arrepender de não ter começado hoje?” Você vai se impressionar com as respostas que vai obter ao fazê-la, e é bem provável que você venha me agradecer daqui a 6 meses, 1 ano ou até mesmo daqui a 5 anos por ter falado isso.

As duas perguntas são parecidas, mas a segunda carrega uma sutileza que nos leva para a oitava pergunta. Ela normalmente deixa explícito o motivo…

Quando você se pergunta: “O que eu deveria estar fazendo?”, você normalmente responde: “Deveria estar fazendo Y ou Z.” Mas quando você responde “Do que vou me arrepender de não ter começado hoje?”, você normalmente responde: “Eu preciso fazer A, porque se não vou me arrepender, porque não vou ter B.”

No meu exemplo ali, eu pensei: se eu não começar a ter uma mentalidade de investidor, eu nunca vou acumular patrimônio e nunca terei liberdade financeira. E vou me arrepender amargamente por isso. Meu motivo ficou explícito: vou aprender investimentos para conquistar minha liberdade financeira.

E é por isso que uma pergunta que você deve se fazer frequentemente é: “Por que eu estou fazendo isso?”

Ou…

Por que eu deveria fazer isso? Quando você responder à pergunta seis, você vai notar que uma lista como:

  • Aprender Inglês
  • Ler
  • Meditar
  • Emagrecer
  • Estudar
  • Tirar aquele projeto da gaveta

Agora, sabe por que você tem dificuldade para fazer as coisas que você sabe que deveria estar fazendo? Porque o seu “porquê” não é forte o bastante para te mover. Sabe por que você não tira sua bunda do sofá para fazer o que tem que ser feito? Porque o seu motivo para fazer é tão fraco que não te gera emoção.

A palavra “emoção” deriva das palavras latinas “ex” + “movére”, que significam “mover para fora”, ou seja, de dentro para fora. Então, se o seu “porquê” não te emociona, você simplesmente não vai fazer, porque isso não te emociona, e sem emoção, você não age.

Sabe por que eu aprendi Inglês? Porque, em 2013, fui a um evento de Javascript em Porto Alegre onde trouxeram vários americanos para palestrar. Como tinha tradução simultânea, eu fiquei de boa, mas o meu aparelho deu problema. Quando olhei para os lados, não tinha quase ninguém usando. Eu era um dos únicos programadores que estavam lá que não tinham um “listening” básico para entender o que os caras estavam falando. Fiquei com muita raiva de mim mesmo por não ter aprendido e muita vergonha de estar ali.

Naquela mesma semana, uma colega minha que era designer veio me apresentar um vídeo engraçado. Era um pedaço de um episódio de The Big Bang Theory em Inglês. Tinham quatro colegas assistindo comigo, e todos eles deram risada, menos eu, pois estava em inglês e sem legenda. Quando minha colega viu que eu não ri, ela me perguntou: “Desculpa, eu coloquei sem legenda, tu não sabe inglês, né?” Foi novamente uma mistura de vergonha e raiva, raiva de mim mesmo por não ter investido mais tempo em aprender.

Depois daquilo, comecei a estudar de forma disciplinada todos os dias. Estudava 20 minutos por dia, e nos raros dias em que não estudava, sentia aquele sentimento de vergonha e raiva por estar roubando um pedaço do meu futuro por não saber inglês. Quando decidi que moraria no Canadá, caí de cabeça. Estudava umas 2 horas por dia, tudo que eu escutava era em inglês, tudo que eu lia era em inglês. Mesmo antes de entender tudo, não entender me dava mais raiva, e essa raiva me alimentava para estudar.

Percebe que o que me movia era uma emoção? Resultado? Em menos de um ano, eu já conseguia ler um livro em inglês e escutar podcasts de 1 hora e entender quase tudo. Mas foi a emoção que me fez fazer isso e não a razão.

Nós achamos que somos seres racionais, mas todas as nossas ações são movidas pelas emoções, mesmo aquelas que racionalizamos, ou seja, que damos uma razão. Uma prova disso é o caso de Elliot, um típico americano bem-sucedido. Executivo de uma empresa próspera, marido, pai, amigo que tirava férias dos sonhos na praia, tido como querido pelos colegas no trabalho e pelos vizinhos.

Só que ele tinha dores de cabeça. O tempo todo. E não eram dores de cabeça comuns, do tipo “toma um Advil que passa”. Eram dores violentas, como se houvesse uma bola de demolição pendurada dentro da cabeça dele golpeando os olhos. Elliot tomava remédios, tirava sonecas, tentava relaxar, ficar na boa, deixar para lá, aguentar firme. Mas as dores continuavam. Aliás, só pioravam. Chegaram a um ponto em que Elliot não conseguia dormir à noite ou trabalhar de dia.

Finalmente, ele foi ao médico, que fez lá aquelas coisas de médico, passou uns exames, recebeu os resultados e deu a Elliot a má notícia: ele tinha um tumor cerebral, bem ali no lóbulo frontal. Bem ali. Viu? Aquela mancha cinzenta, ali na frente. E, rapaz, é grande. Do tamanho de uma bola de beisebol, pelo que estou vendo.

O cirurgião retirou o tumor, e Elliot foi para casa. Se recuperou, voltou ao trabalho, voltou para a família e os amigos. Tudo parecia tranquilo e normal. E aí tudo deu muito errado.

“Elliot não rendia no trabalho. Tarefas que antes ele fazia com o pé nas costas passaram a exigir uma alta dose de concentração e esforço.

Decisões simples, como escolher entre uma caneta azul ou preta, tomavam-lhe horas. Cometia erros básicos e levava semanas para consertá-los. Sua agenda virou um buraco negro; ele perdia reuniões e estourava prazos como se cada um deles fosse um insulto ao próprio espaço/tempo.

Inicialmente, seus colegas ficaram com pena e seguraram a barra. Afinal, um tumor do tamanho de uma pequena cesta de frutas tinha acabado de ser retirado da cabeça do sujeito. Mas logo a barra começou a ficar muito pesada, e as desculpas de Elliot, muito descabidas. Você faltou a uma reunião de investidores para comprar um grampeador novo, Elliot? Sério? O que você tem na cabeça? Após meses de reuniões feitas de qualquer jeito e muita enrolação, a verdade era inegável: a cirurgia havia retirado mais do que um tumor de Elliot e, na visão dos colegas, esse algo era uma grana preta da empresa. Elliot acabou sendo demitido.

Enquanto isso, em casa, as coisas não estavam muito melhores. Siga a receita: pegue um pai negligente, deixe-o no sofá vegetando, tempere com uma pitada de reprises de game shows e leve-o ao forno a 175°C, 24 horas por dia. Essa era a nova vida de Elliot. Ele perdia as partidas de beisebol do filho. Faltou a uma reunião de pais e professores para assistir a uma maratona de James Bond na TV. Esquecia que a esposa gostava que ele falasse com ela mais de uma vez por semana. Cada nova e inesperada rachadura deixava vazar uma briga — só que não dava para chamá-las propriamente de brigas. Uma briga requer o engajamento de no mínimo duas pessoas.”

E, enquanto sua esposa cuspia fogo, Elliot tinha dificuldade de acompanhar a situação. Em vez de agir com urgência para mudar ou consertar as coisas, para mostrar que amava e se importava com a família, ele continuava isolado e indiferente. Era como se habitasse outro fuso, fora do alcance de qualquer pessoa na Terra.

Até que sua esposa não aguentou mais. Na cirurgia, tiraram de Elliot mais do que aquele tumor, ela gritava. Tiraram a droga do coração também. Ela pediu o divórcio e levou as crianças. Elliot ficou sozinho.

Abatido e confuso, começou a procurar formas de recomeçar a carreira. Deixou-se levar por algumas empreitadas de risco. Um golpista abocanhou grande parte de suas economias. Uma interesseira o seduziu, convenceu-o a morar com ela e divorciou-se um ano depois, ficando com metade dos seus bens. Elliot vagou pela cidade, indo morar em apartamentos cada vez mais baratos e xexelentos, até que alguns anos depois se viu praticamente sem teto.

O irmão o acolheu e passou a sustentá-lo. Amigos e família assistiam, horrorizados, a um homem que admiravam basicamente jogar a vida fora num curto espaço de tempo. Ninguém conseguia entender.

Era inegável que algo em Elliot havia mudado, que aquelas dores de cabeça debilitantes haviam lhe causado mais do que dor. A questão era: o que havia mudado?

O irmão de Elliot o levou a vários médicos. ‘Ele não está normal’, dizia. ‘Tem algum problema. Ele parece bem, mas não está. Juro.’ Os médicos fizeram lá aquelas coisas de médico e receberam resultados, que, infelizmente, só diziam que Elliot estava totalmente normal — em ao menos algo que se encaixava no que eles entendiam como normal, talvez até acima da média.

As tomografias computadorizadas não acusavam nada. Seu QI ainda era alto. Seu raciocínio estava coerente. A memória, ótima. Era capaz de se estender sobre efeitos e consequências de suas más escolhas.

Conversava sobre uma ampla gama de temas com bom humor e charme. Segundo o psiquiatra, Elliot não estava deprimido. Pelo contrário, tinha uma autoestima sólida e nenhum sinal de ansiedade crônica ou estresse – exibia uma calma quase zen, mesmo estando no olho do furacão causado pela própria negligência.

O irmão não conseguia aceitar. Algo estava errado. Algo estava faltando.

Finalmente, no desespero, Elliot foi encaminhado a um famoso neurocientista chamado António Damásio.

De início, Damásio fez as mesmas coisas que os outros médicos: submeteu Elliot a uma série de testes cognitivos. Memória, reflexos, inteligência, personalidade, relações espaciais, raciocínio moral – tudo normal.

Elliot foi aprovado com louvor.

Então o neurocientista fez algo que nenhum outro médico havia cogitado: conversou com ele; conversou de verdade. Queria saber tudo: cada equívoco, cada erro, cada arrependimento.

Como Elliot havia perdido o emprego, a família, a casa, as economias? Me explique cada decisão, a lógica de pensamento por trás de cada uma delas (ou, naquele caso, a falta de lógica).

Elliot era capaz de explicar em detalhes quais decisões havia tomado, mas não conseguia explicar o motivo.

Lembrava dos fatos e sequências de eventos com uma fluidez perfeita e até mesmo certa carga dramática, mas quando lhe pediam que analisasse seu processo de tomada de decisão – porque achou que comprar um grampeador era mais importante do que encontrar um investidor?, por que havia considerado James Bond mais interessante que seus filhos? -, dava um branco.

Não tinha respostas. E não só isso: não parecia sequer abalado. A verdade é que ele não dava a mínima.

Ali estava um homem que havia perdido tudo por causa de más escolhas e erros, que apresentava uma ausência total de autocontrole e tinha plena consciência do desastre em que sua vida se transformara, e no entanto não aparentava qualquer remorso, qualquer autorrepulsa, nem sequer um pouco de constrangimento. Muita gente cometia suicídio por menos. E ali estava ele, não apenas confortável com o próprio infortúnio, mas indiferente.

Foi quando Damásio teve uma percepção brilhante: os testes psicológicos a que Elliot fora submetido eram concebidos para medir sua capacidade de pensar, não sua capacidade de sentir. Todos os médicos haviam se preocupado tanto em identificar se ele estava apto a raciocinar que nenhum havia imaginado que os danos de Elliot talvez tivessem na sua capacidade emotiva. Mas mesmo que tivessem se dado conta disso, não existia uma forma padronizada de medir esses danos.

Um dia, um dos assistentes de Damásio imprimiu uma série de fotos grotescas e perturbadoras. Vítimas de queimaduras, cenas de assassinato horrendas, cidades devastadas pela guerra e crianças morrendo de fome. Então as mostrou para Elliot, uma a uma.

Elliot ficou completamente indiferente. Não sentiu nada. E sua falta de reação foi tão chocante que até ele mesmo comentou que era doentio. Admitiu que tais imagens com certeza o teriam abalado no passado, que seu coração teria se contorcido de empatia e horror, que teria virado o rosto com aversão. Mas naquele momento… Sentado ali, diante das mais sombrias distorções da experiência humana, Elliot não sentia nada.

E este, concluiu Damásio, era o problema: embora o conhecimento e o raciocínio de Elliot estivessem intactos, o tumor ou a cirurgia para removê-lo haviam debilitado sua capacidade de empatia e sentimento.

Seu mundo interior já não abarcava luz e sombra, mas se resumia a um infinito miasma cinzento. Assistir ao recital de piano da filha evocava nele toda a vibração e o esfuziante orgulho paternal de comprar um par de meias. Perder um milhão de dólares lhe causava tantas emoções quanto encher o tanque do carro, pôr os lençóis para lavar ou assistir a um game show.

Ele havia se tornado uma máquina ambulante de indiferença. E sem dispor da habilidade de fazer juízos de valor, de diferenciar o melhor do pior, independentemente de quão inteligente fosse, Elliot havia perdido seu autocontrole.

Mas isso levantava uma grande questão: se as habilidades cognitivas de Elliot (sua inteligência, sua memória, sua atenção) estavam todas em perfeito estado, por que ele já não era mais capaz de tomar decisões efetivas?

Aquilo intrigava Damásio e sua equipe. Todos já desejámos em algum momento não sentir emoções, pois elas muitas vezes nos levam a fazer bobagens das quais nos arrependemos depois. Durante séculos, psicólogos e filósofos partiram do pressuposto de que represar ou suprimir as emoções era a solução para todos os problemas da vida.

Eu mesmo achei que as emoções só me atrapalhavam e cheguei a pensar como seria bom se eu tivesse um botão para simplesmente desligar as minhas emoções e fazer o que tem que ser feito.

Ah, pobre Alan, sabe de nada, se pudesse fazer isso acabaria tendo um fim como Elliot.

Um homem inteiramente destituído de suas emoções e de sua empatia, alguém a quem haviam restado apenas a inteligência e o raciocínio, e cuja vida havia se degenerado depressa. O caso de Elliot contrariava todo o senso comum a respeito de decisões racionais e autocontrole.

Mas havia uma segunda questão, igualmente intrigante: se Elliot tinha inteligência aguçada e conseguia resolver qualquer problema através da lógica, porque seu rendimento profissional despencara? Por que a sua produtividade tinha ido ladeira abaixo? Por que, em termos práticos, abandonaria a família sabendo muito bem quais seriam as consequências negativas?

Mesmo que você já não dê a mínima para sua esposa ou seu trabalho, deveria ser capaz de concluir racionalmente a importância de mantê-los, certo?

Fala sério, até os psicopatas compreendem isso. Como Elliot não compreendeu?

O que custa aparecer numa partida de beisebol juvenil vez ou outra?

De alguma forma, ao perder a capacidade de sentir, Elliot também havia perdido a capacidade de tomar decisões. Havia perdido a habilidade de controlar a própria vida.

Todos já passamos pela experiência de saber o que deveríamos fazer, mas, mesmo assim, não conseguimos sair do lugar. Todos já adiamos tarefas importantes, ignoramos pessoas queridas e deixamos de agir em benefício próprio. Sendo que, na maioria das vezes, quando deixamos de fazer algo necessário, é sob o pressuposto de que não conseguimos controlar nossas emoções tanto quanto precisávamos.

Mas depois de ler essa mesma história que eu acabei de contar no livro Fudeu Geral, um livro sobre esperança de Mark Mason, e pesquisar sobre este caso na internet para me certificar de que ele era real, eu entendi a importância desta pergunta que eu já me faço há muito tempo.

Por quê?

Se questionar o porquê não para racionalizar, mas para sentir.

Há algum tempo eu já tinha percebido que eu só tomava atitude quando sentia, quando me emocionava, mas muitas vezes achava que isso é besteira.

Depois de ler sobre a história de Elliot, eu comecei a valorizar ainda mais esta pergunta.

Não é à toa que o primeiro episódio aqui do podcast Vida Lendária é “Por quê?”.

A minha sequência natural de perguntas ao entrar ou iniciar qualquer projeto é:

Por quê?

Com quem?

Como?

O que?

Sempre nesta ordem, e eu explico o porquê disso no episódio 1.

Depois de ouvir essa história, eu espero que assim como eu, você entenda que as suas emoções são o motivo pelo qual você age, e compreendendo isso, você desvenda o poder da ação.

E toda aquela lista de atividades e objetivos que você respondeu nas perguntas 6 e 7, agora você sabe exatamente que precisa instigar o ato de se mover de dentro para fora, ou seja, se emocionar.

E sabe o que mais te emociona? As coisas que mais importam na sua vida. Então, naturalmente, a próxima pergunta que eu quero que você se faça é: O que é mais importante na minha vida?

Essa pergunta, à primeira impressão, é fácil de responder, mas o segredo está na priorização. Por exemplo, talvez você diga que o mais importante na sua vida é sua esposa e seus filhos, acima de tudo. Mas então, por que você dá mais atenção para o seu trabalho do que para sua esposa ou esposo?

Talvez você sinta que eu estou atirando pedras, mas saiba que eu também sou pecador e digno dessa pedrada. Eu também cansei de dar mais atenção para um projeto temporário do que para minha esposa, com quem me comprometi permanentemente, até que a morte nos separe.

Se por algum motivo, por exemplo, a minha esposa precisasse receber tratamento em outro estado ou país que inviabilizasse um projeto meu, eu não teria problema em abrir mão dele para estar com ela lá.

Mas por que no dia a dia nós muitas vezes deixamos de dar atenção para as pessoas que amamos por outra coisa que é menos importante quando pensamos no panorama geral, quando temos uma visão geral das coisas com seus devidos valores?

Deixamos de dar atenção para assistir TV, para ficar nas redes sociais, para jogar videogame, para fazer uma reunião desnecessária, para ficar mais horas trabalhando em um projeto que, no fundo, no fundo, nem é tão importante assim.

Mas por que fazemos isso? Sem dúvida, justificamos de alguma forma.

Dizemos que outras pessoas precisam disso, que está atrasado, que este trabalho é o que sustenta a família, que esse momento na TV ou nas redes sociais é porque o dia foi cheio, então precisa de um tempo também para você.

E está tudo certo, nem sempre vamos conseguir dar atenção como gostaríamos para a pessoa que escolheu dividir a vida conosco, mas isso não é uma exceção, é na maioria dos casos a regra. A falta de atenção é constante e você pode justificar aí o quanto quiser, mas essa justificativa se tornaria um peso enorme se essa pessoa que você ama morresse da noite para o dia e você começasse a se perguntar se realmente valeu a pena abrir mão desses preciosos momentos com ela.

E que tal falar sobre seus filhos? Eu não sou pai, mas conheço muita gente que é. E suas ausências são facilmente justificadas, eles têm que entender que eu não tenho tanto tempo, eu preciso trabalhar duro para dar uma educação de qualidade para os meus filhos, eu tenho que trabalhar duro para dar uma vida confortável para minha família.

Mas quer saber a verdade nua e crua? Essa escola particular pela qual você se mata para pagar nem vai fazer tanta diferença na vida deles. O mundo está mudando tão rápido que é bem provável que eles não usem quase nada do que aprenderem na escola na vida real. O que você, que está ouvindo esse episódio, usa que aprendeu na escola? Eu mesmo aprendi a ler e escrever em casa aos 5 anos. Hoje vejo crianças de 2 anos aprendendo mais rápido que os pais a mexerem em controles remotos, celulares e tablets.

Seus filhos se dariam bem na escola pública. Eu nunca estudei em escola particular e nem por isso deixei de ter o sucesso que os pais que colocam seus filhos na escola particular querem que eles tenham. Isso não é motivo para deixar de dar atenção para eles. Na verdade, se você quer que eles tenham um futuro melhor, é exatamente atenção e carinho que você precisa dar a eles, e não uma escola melhor.

Como Yuval Harari mesmo disse em seu livro “21 lições para o século 21” e também em sua entrevista com Tom no programa Impact Theory, as duas habilidades mais importantes para essa nova era em que vivemos são: inteligência emocional e equilíbrio mental. E adivinha só? Essas duas atividades são fortemente influenciadas pela infância que você, como pai, proporciona aos seus filhos.

Quanto mais ausente você for, mais difícil você deixará dele desenvolver as ÚNICAS habilidades que um dos maiores historiadores e futuristas da nossa era classifica como as mais importantes.

Foda-se o balé, a aula de alemão ou a de natação. Sua atenção, seu cuidado é o que tem mais valor. Seu filho não se importa que o lençol dele é de seda ou de um lençol de algodão surrado, ele se importa de você, na hora de dormir, contar uma história pra ele. Ele não se importa se o carro é zero ou usado, desde que você esteja neste carro com ele. Ele não se importa se você é um diretor ou um gerente, se é um grande empresário ou um microempreendedor, ele se importa de estar com o pai e a mãe dele.

E você pode contar um monte de razões para justificar sua ausência, mas quando seus filhos estiverem casados e longe de você, você vai se perguntar: por que eu não passei mais tempo com eles? Eles cresceram tão rápido.

A grande verdade é que mesmo que você liste aí todas as coisas que são mais importantes na sua vida, é bem provável que você esteja tomando elas como garantidas e, por isso, não dê tanta importância como deveria para elas. Você se acomoda e para de colocar energia, e as coisas mais importantes da nossa vida exigem manutenção constante.

Sua vida amorosa exige manutenção. Seu relacionamento com a família exige manutenção. Suas amizades exigem manutenção. Sua saúde exige manutenção. Sua saúde financeira, sua carreira e por aí vai.

Mas chega uma hora que começamos a tomar as coisas como garantidas, como o próprio ar que respiramos. Elas se tornam apenas algo que está ali, está presente.

Mas sem elas, nossa vida deixaria de existir como conhecemos. Tendemos naturalmente a valorizar o que é escasso e a desvalorizar o que é acessível. Talvez você não dê tanta atenção mesmo considerando importante, porque acredita que estará ali, disponível para você quando precisar.

Mas não é assim que funciona. Já vi pais arrependidos de terem perdido a infância de seus filhos pela ilusão de estarem trabalhando insanamente pelo bem dos seus filhos. Já vi casamentos e namoros acabarem por desculpas muito boas pelas quais uma das partes precisava se dedicar muito em sua carreira ou trabalho.

Então, depois de refletir sobre o que é mais importante na sua vida e fazer uma lista priorizando, e fizer uma lista no celular, computador, papel ou até mesmo mental… Eu quero que você se faça a próxima pergunta.

O que eu estou tomando como garantido?

Essa pergunta eu comecei a fazer só recentemente, mas gostaria de ter começado a fazer antes. Se você achar mais fácil, você pode se perguntar: O que eu não dou o devido valor por ter como certo, como garantido? O que eu não tenho valorizado tanto como deveria?

Essa pergunta vai te ajudar a despertar duas forças de felicidade: a consciência de onde você deve colocar mais energia e, se você colocar energia, isso te trará mais felicidade no momento presente e também através das lembranças no seu momento futuro. E te gerará gratidão, pois você automaticamente estará sendo grato pelo que possui.

Vamos pegar só este momento em que você está aqui me escutando. Você já reparou na loucura que está acontecendo nesse exato momento?

Você está me escutando, mas eu não estou do seu lado falando este conteúdo. Neste momento, estou fazendo outra coisa, provavelmente a dezenas, centenas ou milhares de quilômetros de distância de você. Gravo este conteúdo e o disponibilizo em um site que distribui este podcast em várias plataformas diferentes. Você pode escutá-lo quando e onde quiser, na palma da sua mão.

Isso tem um poder incrível, algo que nem mesmo John Rockefeller, comprovadamente o homem mais rico que já existiu, conseguiu alcançar com toda a sua fortuna. E vale ressaltar que ele faleceu não faz tanto tempo assim.

Assim como eu falei sobre o poder computacional do nosso cérebro, que é subestimado no início deste episódio, o poder que carregamos hoje nas mãos, por meio de um celular, também é subestimado. Seu aparelho possui mais poder de processamento do que o foguete que levou o homem à lua.

E o que você está fazendo em boa parte do tempo com ele?

Rolando para baixo sem parar no TikTok, assistindo vídeos de gatinhos?

Acompanhando a vida de pessoas que você nem conhece no Instagram?

Brigando com sua família sobre política no WhatsApp?

Você provavelmente pensa: “Eu tenho um celular, grandes coisas, todo mundo tem um.” Mas é exatamente neste ponto que devemos refletir. Não é porque todos têm que tem menos valor, não é porque é acessível como a família, a saúde e tudo aquilo que realmente importa, que tem menos valor.

O ar que você respira é outro exemplo de algo que você considera garantido. Mas quando estiver debaixo d’água, sem conseguir respirar, ou em uma fila de um hospital com insuficiência respiratória por causa de um vírus, a única coisa em que conseguirá pensar é no ar. Nós o tomamos como garantido até o momento em que somos privados dele. 

O mesmo acontece com sua relação com sua esposa, esposo e filhos, sua saúde física, sua saúde mental, sua saúde financeira, suas amizades e sua saúde financeira…

Mas, diferente do ar, que seu corpo faz a manutenção de forma automática, inalando oxigênio e levando-o para todo o seu corpo, e expirando dióxido de carbono, todo o resto que eu citei exige manutenção, exige cuidado.

Mas qual deles você não tem cuidado como deveria? Já percebeu que valorizamos a maioria das coisas quando as perdemos? Mas será que realmente precisamos perder para valorizar? É bem provável que você já tenha perdido alguém próximo de você e desejasse poder voltar no tempo e passar mais tempo com essa pessoa. Quem seria essa pessoa que, se te deixasse hoje, você teria esse mesmo sentimento?

É bem provável que em algum momento da sua vida você já tenha adoecido, já tenha desejado ter se cuidado melhor, ter se alimentado melhor. Então, por que não se cuidar hoje?

Eu conheço muitos empresários que têm a saúde como garantida. Eles fazem longas jornadas de trabalho, com a coluna toda torta, se alimentando mal e ainda sem fazer qualquer tipo de exercício.

E por mais que alguns deles tenham muito dinheiro, esse dinheiro não compra um corpo novo e saudável para eles. A saúde é um ativo que segue a lei do efeito composto. Você não pode se alimentar, fazer exercício e sentar com a postura correta durante um dia e passar os outros 364 dias do ano fazendo errado e esperar que esse um dia sirva para consertar todo o resto.

Pensar que porque uma vez por mês você leva seus filhos para passear e sua esposa para jantar compensa por todos os outros dias do mês em que você esteve ausente é um equívoco. Nós somos resultados da média das nossas ações ao longo do tempo.

Se você se alimenta bem em média, não será um dia de exagero que vai comprometer sua saúde e fazer com que você instantaneamente ganhe uma barriga de chope.

Se você, em média, gerencia bem suas finanças, não é um mau investimento ou uma escorregada nos gastos que vai te fazer quebrar, pois você estará preparado para isso com seus investimentos bem diversificados.

Se você cuida bem do seu casamento, não é um dia em que você trabalhou até mais tarde que fará seu casamento acabar.

As coisas mais valiosas da vida são acessíveis a todos, mas não é por isso que elas são menos valiosas. No entanto, é bem provável que sua percepção de valor precise ser realinhada. Por isso, eu te pergunto mais uma vez, para ficar aí no cantinho da sua mente ecoando: o que você não está valorizando quanto deveria?

Essa foi a nossa pergunta número 10 das 20 perguntas lendárias. Como eu avisei no começo deste episódio, ele será dividido em 2 partes e no próximo episódio abordaremos O poder de fazer perguntas | Parte 2.

Eu vou concluir esta lista das 20 perguntas que considero as perguntas mais importantes que você precisa responder continuamente. Vamos relembrar as 10 perguntas de hoje para que você possa anotar aí:

  1. O que você realmente quer?
  2. Quem eu sou você?
  3. Quais são os meus valores?
  4. Quais histórias eu venho contando para mim mesmo?
  5. Por que e de que forma eu estou me enganando?
  6. O que eu deveria estar fazendo?
  7. Se eu continuar, como eu vou estar em X anos?
  8. Por que estou fazendo isso?
  9. O que mais importa na minha vida?
  10. O que eu estou tomando como garantido?

Escreva essas perguntas. Se você prefere papel e caneta, use uma folha inteira para cada pergunta, pois cada uma delas pode ter páginas de respostas.

Se você prefere um meio digital, pode ser um Google Docs, um Evernote ou o que preferir. Mas reflita sobre essas perguntas e responda-as da forma mais sincera e honesta possível. Você está respondendo para você mesmo, se enganar só vai atrasar o processo.

Faça essas perguntas frequentemente, durante o banho, antes de dormir, ao acordar e mesmo quando acreditar que encontrou as respostas, continue fazendo-as. Porque assim como nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem!

Também sua resposta mudará, pois cada vez que a fizer estará em um contexto diferente e você também não será o mesmo.

Pois essas perguntas têm o poder de mudar as histórias que você conta para si mesmo e assim mudar completamente sua vida.

Esse episódio vai ficando por aqui. E se de alguma forma você acredita que esse conteúdo gerou valor para você, compartilhe com alguém que você valoriza e quer que cresça com você. O caminho do crescimento pessoal pode parecer solitário às vezes, porque nem todas as pessoas querem ser desconectadas de suas ilusões e se envolver no processo de autoconhecimento para se tornarem pelo menos 1% melhor do que são.

Você está de parabéns por chegar até aqui e se você acha que as perguntas deste episódio foram pesadas, prepare-se para o próximo, pois eu deixei minhas 5 perguntas estoicas para o final. E tem duas delas que eu sempre choro quando reflito sobre elas, mas elas têm sido ferramentas essenciais para o meu crescimento.

Então, se sua vontade de crescer sobreviver a essa bateria de perguntas da parte 1, eu quero te deixar mais do que convidado para escutar o episódio 2.

Obrigado por estar aqui comigo até o final e não se esqueça: uma vida lendária é formada por pequenas ações e decisões, coloque em prática o que você aprendeu aqui hoje.

Até o próximo episódio!

Referências em vídeo:

The Power of Questions | Steve Aguirre | TEDxBergenCommunityCollege

The Power Of Asking Questions

Recursos usados:

/https://docs.google.com/document/d/1DX_2eogvunKkWG_Ep49uYBb8CiSKaMLt5djJGK9RB2I/edit?usp=sharing

/https://positivepsychology.com/introspection-self-reflection/

Escrito por,

Alan Nicolas

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