#019 – Você é dois!

Já percebeu que às vezes parece que existem duas pessoas dentro da sua cabeça, onde uma quer uma coisa e a outra quer outra?

Uma parte de você quer dormir mais cedo, mas a outra quer ficar assistindo TV ou no celular até mais tarde.

Uma quer um estilo de vida mais saudável, a outra só quer comer fast food e ficar no sofá.

Uma parte quer ser produtiva, realizar as tarefas importantes, a outra quer adiar essas tarefas e fazer o que é mais divertido.

Uma parte quer aproveitar a família, aproveitar o que você já conquistou, a outra quer trabalhar mais, mesmo que isso signifique sacrificar o tempo em família para ganhar mais dinheiro.

Uma quer ser mais espontânea, mais corajosa, a outra quer evitar riscos ou sair da zona de conforto.

Uma parte de você quer mais liberdade, mais tempo livre, já a outra quer preencher todo o seu tempo com inúmeras atividades, e você se pega perguntando: por que eu fui dizer sim para isso?

Sabe por que isso acontece?

Isso acontece porque existem duas pessoas dentro de você que não estão alinhadas. E não estou falando metaforicamente ou psicologicamente: fisicamente, existem duas pessoas dentro de você.

Se você não entender isso, provavelmente ficará preso na vida, se limitando, se julgando e se criticando constantemente.

Neste episódio de Vida Lendária, você aprenderá a reconhecer esse outro eu dentro da sua cabeça, que tem interesses e vontades próprias. E vou mostrar uma maneira de alinhar esses dois para reduzir esse conflito interno.

Ficou curioso? Venha comigo no novo episódio de Vida Lendária e descubra como alinhar essas duas pessoas dentro de você. No final, um de vocês ficará surpreso e o outro… bom, você vai descobrir.

Se você ficou curioso, vou explicar agora por que você é “dois”.

Seu cérebro é basicamente composto por dois cérebros, dois hemisférios, cada um realizando metade do trabalho de ser você. Metade da sua visão é processada por cada um e metade dos seus movimentos é dirigida por cada um. O lado esquerdo do cérebro controla o lado direito do corpo e o lado direito do cérebro controla o lado esquerdo do corpo.

Os dois cérebros se coordenam e trocam informações através de um feixe de nervos, mas esse feixe pode ser cortado e, inclusive, já foi utilizado como tratamento para epilepsia.

Depois do corte, as pessoas pareciam iguais, mesmo que seus cérebros estivessem divididos. No entanto, alguns pacientes relatam que, após a divisão, enquanto selecionavam suas roupas pela manhã com a mão direita, a mão esquerda poderia discordar, empurrando a mão direita e pegando outra roupa, uma roupa que a pessoa não estava afim de vestir naquele dia.

Na verdade, a mão esquerda poderia discordar com frequência, o que os pacientes com cérebro dividido achavam frustrante.

Os médicos desses pacientes ficaram muito curiosos para saber o que estava acontecendo e começaram a investigar a fundo.

Como mencionei anteriormente, o cérebro direito vê e controla metade de você, enquanto o cérebro esquerdo controla e vê a outra metade. O que eu não mencionei é que cada hemisfério controla diferentes aspectos da percepção e do comportamento.

E só para constar, você sabia que basicamente apenas o cérebro esquerdo pode falar? Isso ocorre porque o centro da fala está localizado nele. Isso acontece porque ele é especializado em linguagem e processamento verbal.

Ou seja, o cérebro direito, sem esse feixe de nervos que conecta os dois, fica mudo. Em cérebros normais, isso não importa, porque cada metade se comunica através do feixe de nervos com a outra. Mas cérebros divididos não conseguem.

Vamos fazer um exercício mental para que você possa entender melhor.

Imagine que você tenha passado por uma cirurgia e eu te peça para fazer um teste. Eu pediria para que você tampasse seu olho direito com sua mão direita.

O que acontece agora? Como seu olho direito está tapado, seu hemisfério esquerdo fica cego. Se eu mostrar uma palavra, você dirá que não está vendo nada.

No entanto, se eu colocar um objeto sobre a mesa, sua mão direita o pegará e mostrará para mim, indicando que você entendeu que aquele objeto é o que deve ser pego.

E aqui começa a ficar mais esquisito. Se eu perguntar por que você está segurando aquele objeto, seu cérebro esquerdo vai inventar algo totalmente plausível e convincente.

Não é que o cérebro esquerdo esteja mentindo. Ele está apenas criando uma história para explicar suas ações passadas e seu estado atual, o que lança dúvidas sobre a noção de livre-arbítrio. Mas isso é uma história para outro vídeo ou episódio.

Criar razões para explicar por que fazemos certas coisas é apenas algo que os cérebros esquerdos fazem. Isso acontece em pessoas normais e saudáveis o tempo todo. E, se você pensar cuidadosamente, saberá que já fez isso.

Voltando ao experimento em que seu cérebro está dividido, se você ainda estiver com o olho direito fechado e eu colocar um objeto em sua mão esquerda e perguntar o que você está segurando, você não será capaz de dizer e responderá “Não estou segurando nada”.

IIsso é exatamente o que aconteceu com dezenas de experimentos feitos com pacientes que passaram pelo processo de comissurotomia, ou seja, que tiveram seus cérebros divididos.

Outra coisa curiosa desses experimentos é que, quando foi pedido para desenhar alguma coisa, os pacientes com cérebro dividido conseguiam desenhar dois objetos separados simultaneamente com cada mão, de uma maneira que pessoas com o cérebro inteiro como você e eu dificilmente vamos conseguir.

Esses experimentos em pacientes com cérebro dividido na década de 60, que tiveram esse feixe de nervos chamado de corpo caloso cortado como uma solução em casos de epilepsia grave, são profundamente perturbadores porque realmente apontam na direção de uma inteligência muda e separada, algo que vive com vontades e interesses próprios dentro do nosso crânio.

Você pode até fazer perguntas a um cérebro dividido e obter respostas totalmente diferentes de cada lado. Então, se seu cérebro está dividido, quem é você nessa situação? De fora, é tentador pensar que você é a parte do cérebro que fala como a pessoa, como o indivíduo.

Mas algo está ouvindo e respondendo às perguntas no lado direito também. E embora o cérebro direito não possa falar, ele entende rostos, o que o cérebro esquerdo não consegue. Já que é o hemisfério direito que é mais especializado em processar informações visuais, incluindo reconhecimento facial.

Isso significa que se o seu cérebro fosse dividido e você acredita que o seu lado esquerdo é o que fala e cria a narrativa, saiba que sem o direito você não saberia quem são seus amigos e familiares em meio à multidão.

Esse ato de cortar expõe duas mentes em uma cabeça. E a mente falante não sabe que há mais alguém na casa. O cérebro esquerdo pode descrever a situação em que se encontra, mas, mesmo assim, ficará constantemente surpreso com as ações do cérebro direito e tentará explicá-las.

Há uma pergunta a ser feita aqui:

Por que, após a separação, o cérebro direito não surta completamente, mas, em vez disso, colabora, respondendo gentilmente às perguntas e ouvindo as histórias bobas do cérebro esquerdo sobre o que está acontecendo?

É hora de especular sobre o melhor palpite que não sabemos. Mas uma resposta é que o corte não torna o cérebro direito uma pessoa consciente com inteligência separada, mas, em vez disso, sempre esteve em pessoas normais. Talvez o cérebro direito cresça como um companheiro sem escolha, sentindo-se inicialmente como parceiros um tanto iguais.

Mas então, à medida que a fala se desenvolve e ele não consegue participar, isso se torna cada vez mais o ponto central da vida. Ele se resigna a coordenar mudo com o cérebro esquerdo.

Neste momento em sua cabeça normal, há dois de vocês assistindo/escutando a este vídeo/episódio, um tendo um momento de surpresa e o outro revirando mentalmente os olhos diante do óbvio disso tudo. Nos cérebros divididos, o direito não surta porque não houve uma grande mudança.

Você pode não concordar e talvez esteja argumentando agora que isso não é verdade, que não pode ser possível, mas isso é exatamente o que esperaríamos que o cérebro esquerdo falante fizesse.

Especulações à parte, os pacientes com cérebro dividido mostram, no mínimo, que há algo separado na mente que pode ouvir, entender e responder, dadas as circunstâncias certas. Apesar de ter sido criada nos anos 60 pelo neurocientista Roger Sperry, que inclusive ganhou o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 81 por seu trabalho no campo da especialização hemisférica do cérebro, essa prática de dividir o cérebro de forma experimental é eticamente controversa e não é amplamente praticada. Hoje em dia, ela é aplicada apenas em casos extremos de epilepsia grave, mas revela algo muito profundo e até mesmo assustador, colocando em jogo nossa identidade.

Ao analisar essas informações, parece que seu cérebro não é totalmente seu. E quando digo “seu”, refiro-me à mente falante, a mente com a qual você provavelmente se identifica, já que é a que cria as narrativas. Como já mencionei no episódio #002 do Vida Lendária, você é as histórias que repete. É como se você estivesse carregando um passageiro silencioso em sua cabeça.

Se você nunca ouviu falar sobre isso, imagino que sua mente esquerda já tenha explodido só de ler isso.

Isso aconteceu comigo quando li sobre isso em 2018. Passei uma semana estudando sobre o assunto e, sinto muito em informar, mas não acaba por aqui.

Há outro aspecto em que também somos dois, descoberto por outro ganhador do Prêmio Nobel chamado Daniel Kahnehan. Seu livro de quase 600 páginas explora esse aspecto.

Imagine que você está prestes a jogar um jogo de videogame.

Você tem que escolher qual personagem jogar: um herói corajoso e impetuoso ou um herói mais cauteloso e estratégico. Qual você escolheria?

Essa escolha pode depender de como você está se sentindo no momento, do que espera do jogo ou até mesmo do que seus amigos disseram sobre os personagens. Mas o que muitas vezes não percebemos é que essas escolhas são influenciadas pelo modo como nosso cérebro funciona.

Segundo Kahneman, nosso cérebro é dividido em dois sistemas de pensamento: o Sistema 1 e o Sistema 2. O Sistema 1 é rápido, intuitivo e emocional. Ele toma decisões automáticas e quase instantâneas, sem que precisemos pensar muito sobre elas.

Já o Sistema 2 é mais lento, racional e consciente. Ele é responsável pelo pensamento crítico e reflexivo, que exige mais esforço mental.

Interesse: Como o cérebro dividido afeta nosso comportamento?

Agora, vamos voltar ao jogo de videogame. Se você escolheu o herói corajoso e impetuoso, é provável que tenha deixado seu Sistema 1 tomar a decisão por você. Ele pode ter sido influenciado pela emoção de vencer rapidamente ou pela adrenalina de enfrentar desafios mais intensos. Já se você escolheu o herói cauteloso e estratégico, pode ter sido o seu Sistema 2 que entrou em ação, avaliando as habilidades dos personagens e as possíveis consequências de cada escolha.

Esses dois sistemas de pensamento muitas vezes entram em conflito, e isso pode afetar nosso comportamento e nossas decisões de diferentes maneiras. Por exemplo, quando compramos um produto, podemos ser influenciados pelo Sistema 1, que é mais suscetível a atalhos mentais, como a influência social ou a ancoragem de preços. Já quando precisamos resolver um problema complexo ou tomar uma decisão importante, precisamos do Sistema 2, que é mais analítico e reflexivo.

E é aqui que nasce o conflito.

Você já se perguntou por que, às vezes, tomamos decisões ruins mesmo quando achamos que estamos pensando cuidadosamente? Ou por que, às vezes, nossos pensamentos parecem tão rápidos e, em outros momentos, tão lentos?

Daniel Kahneman dedicou praticamente toda a sua vida a responder essas perguntas. E ele não ganhou um prêmio Nobel à toa. Ele descobriu isso através de pesquisas, observações e reflexões que levaram décadas e foram compiladas em seus artigos científicos e em uma obra-prima de 600 páginas que pode assustar muitas pessoas.

O livro é realmente um pouco denso, mas, de uma forma até a te incentivar a lê-lo, eu vou te falar aqui o que eu aprendi nele, linkando com minhas outras pesquisas.

Nele, eu também descobri que, assim como nos experimentos do cérebro dividido, nós também somos dois em outro aspecto. Nesse caso, no Sistema 1 e 2, que eu já mencionei no exemplo do videogame.

Para facilitar o entendimento deste conceito, vou explicar de duas formas, com duas analogias. Uma através do carro e outra através da história do Elefante e do Rato.

Vamos começar com a do carro, pode ser? Então vamos fazer de conta que a sua mente é um carro. Vamos chamá-lo de “Carro da Consciência”. Este carro pode ser da cor, modelo e marca que você quiser. Pode ser um fusca, uma Ferrari – escolha o carro que quiser. Aqui, no mundo das ideias, você não tem limitação. Já escolheu seu carro? Então vamos lá.

Seu Carro da Consciência segue pela estrada da vida, passando por cruzamentos, entradas e saídas de vias expressas. Essas rodovias e cruzamentos representam as decisões que você precisa tomar ao dirigir e que determinarão seu destino.

Dentro do Carro da Consciência viajam dois passageiros: a Mente Racional e a mente emocional. A Mente Racional representa os pensamentos conscientes, a habilidade de fazer cálculos, a capacidade de analisar várias opções de forma racional e de expressar ideias por meio da linguagem. É o Sistema 1. A mente emocional representa as emoções, os impulsos, a intuição e o instinto. É o Sistema 2.

Enquanto a Mente Racional está pensando quando a fatura do cartão de crédito vai fechar, a Mente Emocional quer jogar tudo para o alto e fugir para outro lugar.

Cada mente tem pontos fortes e fracos. A Mente Racional é meticulosa, exata e imparcial. É metódica e crítica, mas também lenta. Demanda esforço e energia e, como um músculo, precisa ser esculpida ao longo do tempo e pode sofrer fadiga se sobrecarregada. A Mente Emocional, por outro lado, chega a conclusões de forma rápida e sem esforço. O problema é que essas conclusões são frequentemente imprecisas e irracionais. A mente emocional é ainda meio dramática e tem o mau hábito de reagir de forma exagerada às coisas.

Em geral, pensamos que o Carro da Consciência está sendo guiado pela Mente Racional enquanto a Emocional fica no banco do carona gritando para onde quer ir. Porém, muitas vezes, estamos seguindo nosso caminho, cumprindo nossas metas e descobrindo como fazer para chegar em casa quando a mente emocional, que achamos chata e birrenta, avista algo brilhante ou curioso e gira o volante naquela direção, nos jogando na contramão, causando danos a Carros da Consciência alheios e ao nosso.

Nossa mente racional tem as duas mãos na direção do carro enquanto nossa mente emocional, por onde passa, fica dizendo para parar. Quando focamos na estrada em direção aos nossos sonhos, é só passar algumas horas que ela já começa a ficar entediada, igual uma criança birrenta. Começa a pedir para parar para comer, parar para ver a paisagem, pede para ir para outra direção. Mas não é assim que funciona o nosso Carro da Consciência.

Por mais de 2.000 anos, desde Sócrates até a psicologia moderna, acreditávamos que era a mente racional que estava no comando.

No entanto, foi apenas recentemente, há menos de 100 anos, que descobrimos que não é a mente racional que está no controle, mas sim a mente emocional.

É a mente emocional que dirige o Carro da Consciência.

Isso é verdade mesmo para cientistas, médicos e professores com doutorado. Todos estamos no mesmo barco, ou melhor, na mesma rodovia, sendo guiados por nossa mente emocional – uma mente irracional que se comunica não por palavras, mas através de sentimentos e emoções.

E é precisamente a emoção que é a gasolina do nosso Carro da Consciência. Somente a emoção nos faz agir.

Todo problema de autocontrole não é um problema de informação, disciplina ou razão, mas de emoção. Isso ocorre porque a ação é emoção.

A emoção é o sistema biológico que impulsiona o movimento do corpo. O medo não é algo mágico que nosso cérebro inventa. Na verdade, ele acontece no corpo – é o aperto no estômago, a tensão nos músculos, a descarga de adrenalina e o desejo opressivo por espaço.

Enquanto a Mente Racional existe apenas em uma parte do nosso cérebro, a mente emocional é a sabedoria e a estupidez de todo o corpo.

Por exemplo, a raiva impele o corpo ao movimento. A ansiedade o leva a se retrair. A alegria acende os músculos do rosto.

Toda emoção inspira ação e a ação inspira emoção. As duas são inseparáveis.

Chegamos, então, à resposta mais simples e óbvia para a maior questão de todos os tempos: por que não fazemos as coisas que sabemos que precisamos fazer? Por que, ano após ano, fazemos um monte de metas e não conseguimos cumprir a maioria delas?

A resposta é muito simples, mas dolorosa. A resposta é porque a mente emocional simplesmente não está afim e é ela quem está no controle.

Por isso, vou repetir: todo problema de autocontrole não é um problema de informação, disciplina ou razão, mas de emoção.

Você já sabe que deveria ler mais, se exercitar mais, juntar mais dinheiro, tomar mais água para hidratar mais o corpo – a maioria de vocês já sabe o que precisa fazer para realizar suas metas.

Afinal, ninguém se inscreve na academia pensando em ir apenas no primeiro dia, pagar 12 meses e nunca mais ir. Então, por que quase todo mundo que se inscreve não vai? Será que todo mundo gosta de perder dinheiro ou é simplesmente porque não é isso que a mente emocional quer?

Não estou dizendo que você deve se render às vontades da mente emocional. Se você fizer isso, vai se tornar uma pessoa extremamente egoísta, que está constantemente correndo atrás de prazeres e fugindo da dor.

Mas também não adianta ficar tentando vencer com a razão. Quantas vezes você já definiu uma meta específica com uma data, mas mesmo assim não a cumpriu?

Sabe por que isso aconteceu?

Porque isso não gera emoção e sua mente emocional só se comunica através de sentimentos.

Por isso uma forma inteligente de criar metas não é simplesmente usar estratégias que fazem ela ficar de fácil compreensão, mas principalmente associar uma forte emoção a elas, algo que te faz sentir algo.

Sabe porque?

Porque assim você está conversando com sua mente emocional, porque afinal é ela que faz acontecer.

Quando você coloca uma meta e não cumpre, não é porque sua mente racional está fraca, e sim porque quem está no controle da sua vida é sua mente emocional.

A verdade é que você tem um problema de comunicação com ela. Lembre-se sua mente emocional se comunica pelos sentimentos e pelas emoções.

Se você sente que não tem autocontrole isso é um problema emocional;

A preguiça também é um problema emocional;

Assim como a procrastinação, impulsividade, ansiedade e estresse, todos esses problemas são emocionais.

E como você deve ter percebido até agora, mais compreensão intelectual e entendimento de como as coisas funcionam não mudam o comportamento.

Você pode assistir e ouvir todos os meus conteúdos, ler todos os livros existentes sobre comportamentos, sobre como ser disciplinado, sobre como criar uma rotina saudável, mas enquanto você não conseguir se comunicar com sua mente emocional, nada adiantará.

Problemas emocionais são irracionais, ou seja, não adianta argumentar.

Você não é apenas uma pessoa, você é duas.

Sabe quem está ouvindo agora o que estou dizendo?

É a mente racional. A mente emocional não entende palavras.

E, mente racional, eu sei que é difícil ouvir isso, mas você não está no controle.

Você está brigando pelo controle e isso só gera mais dor, mais confusão, mais peso.

Cada vez que você tenta brigar com sua mente emocional pelo controle, você agita ainda mais sua mente.

Vamos fazer um exercício de imaginação. Imagine um copo de água com areia no fundo. A água está cristalina porque a areia está parada no fundo dele.

Esse copo é um exemplo de uma mente calma e alinhada.

A água é sua mente e seus pensamentos e sentimentos são os grãos de areia lá embaixo.

Isso é alguém que está em equilíbrio com suas duas mentes: a mente racional e a mente emocional.

Mas se você começa a lutar pelo controle, começa a brigar com sua mente emocional, você começa a movimentar a água desse copo e misturar a água com a areia, deixando o que antes era transparente e cristalino agora turvo.

Sua mente começa a ficar agitada, confusa, seus pensamentos te dominam e isso só leva a ansiedade, estresse e preocupações.

Por que sempre que você acha que vai conseguir descansar, que vai relaxar, aparece aquele pensamento te avisando de algo que deveria ter feito, ou até mesmo algo que você não deveria ter feito?

Ao invés de ter a mente emocional como sua aliada, ela se torna sua pior inimiga.

Ela começa a trabalhar contra você, pois você ao invés de conversar está tentando forçá-la a ir para onde ela muitas vezes não quer ou não entende porque ir para lá.

Dessa forma…

Você pode até se esforçar, ganhar dinheiro, mas acaba perdendo tudo.

Você pode até se reconciliar com a família, mas logo depois brigam de novo.

Você pode até se esforçar bastante, ter sucesso em alguma esfera da vida, mas a mente emocional te sabota em outra esfera.

Existe uma frase associada a diferentes pensadores que diz o seguinte:

O maior inimigo do homem é ele mesmo.

E sabe o que essa frase significa?

O único inimigo que você precisa derrotar são as limitações geradas pelo conflito que existe pela direção do Carro da Consciência.

Querer vencer esse conflito com sua própria mente racional, sem ajuda, sem alguém para te guiar e sem um método para isso, é como vários filósofos e pensadores dizem: é um rato muito inteligente tentando dar ordens para um elefante forte e desengonçado.

O rato, assim como sua mente racional, tenta de tudo, coloca uma coleira no elefante e tenta puxar, empurra com todas as forças as patas do elefante para ele se mexer.

E o pobre ratinho de vez em quando até consegue incomodar o elefante para ele se mexer, às vezes com a recompensa certa até consegue fazer o elefante começar a andar no caminho certo.

Mas ele logo vai para outro lado ou para e não tem nada que faça ele andar.

O rato sabe exatamente para onde ele e o elefante precisam ir para ambos serem felizes, é um caminho com desafios e só os dois juntos conseguem superar esse caminho, mas o rato não sabe falar a língua do elefante e o elefante também não sabe falar a língua do rato.

O elefante quer buscar prazer e fugir da dor, ele está preocupado em poupar energia e sobreviver.

O rato sabe do potencial que ambos têm juntos e quer mais do que apenas sobreviver, ele quer alcançar metas, objetivos, é sonhador e quer ir mais longe do que apenas existir.

Sem o elefante, o rato fica estagnado, seu potencial é desperdiçado.

Sem o rato, o elefante só existirá, nunca saberá realmente o que é viver, apenas sobreviver.

Assim é sua mente.

O rato é sua mente racional, a parte consciente de sua mente.

É a parte de sua mente que faz planos, sonha e pensa de forma crítica.

O elefante é sua mente emocional, a parte inconsciente de sua mente.

São suas emoções, suas crenças, seus impulsos, seu instinto e seus sentimentos.

Então, pare tudo e preste muita atenção agora nisso.

Segundo estimativas, apenas cerca de 5% das nossas decisões são conscientes. O restante, ou seja, 95%, pertence ao reino do inconsciente.

Isso significa que apenas 5% do tempo sua mente racional e lógica está direcionando sua vida, enquanto os outros 95% ou mais são controlados pela sua mente emocional.

É por isso que você provavelmente conhece médicos que fumam ou estão acima do peso. Eles sabem mais do que ninguém que isso faz mal para a saúde e até atendem pacientes em consultórios com problemas relacionados ao cigarro ou ao sobrepeso.

Quantas pessoas você conhece que têm diabetes e, mesmo assim, não se cuidam direito, mesmo sabendo que vai fazer muito mal, e vão lá e comem algo que não podem?

Agora você descobriu por que não consegue fazer o que sabe que precisa fazer e por que quase todas as suas metas de ano nunca funcionam.

O ratinho vai lá e escreve um monte de coisas: ser mais saudável, aprender inglês, começar a meditar, gastar menos dinheiro, economizar mais, se demitir e encontrar um novo emprego, parar de fumar e por aí vai.

Mas agora você entende que tudo isso é o ratinho planejando um futuro melhor?

O elefante está fugindo da dor e correndo atrás do prazer.

O que é mais prazeroso, ficar 3 horas na esteira ou comer um bolo de chocolate e morango?

O que é mais prazeroso, economizar para criar um fundo de emergência ou aproveitar a Black Friday e comprar uma TV maior?

Perceba que existe um conflito constante entre os interesses de nossa mente racional e emocional.

É como se houvesse um conflito constante entre o rato e o elefante.

Sabe por que existem conflitos?

Por desentendimentos, por falta de comunicação.

Se você olhar no dicionário o que significa a palavra conflito, vai encontrar exatamente isso: profunda falta de entendimento entre duas ou mais partes.

Dos conflitos surgem todas as coisas ruins que o mundo já viu…

Brigas entre casais, brigas entre pais e filhos, brigas entre familiares, brigas entre sócios e até mesmo guerras.

Sabe o que acontece diariamente em sua cabeça?

Um conflito entre o rato e o elefante.

Um conflito entre seu consciente e seu inconsciente.

Um conflito entre seu sistema 1 e sistema 2.

Agora que entendemos a razão pela qual muitas vezes não conseguimos cumprir nossas metas e objetivos – um desalinhamento entre nossa mente racional e emocional – vem a pergunta de um milhão de reais: como alinhar essas duas mentes e fazê-las “conversarem” se falam línguas diferentes?

Entre sua mente consciente e inconsciente existe uma pequena intercessão, uma conexão chamada de subconsciente. A única forma da mente consciente conversar com a inconsciente é influenciando-a através do subconsciente.

Lembra que falei que cerca de apenas 5% de nossas decisões são conscientes e 95% são inconscientes? O poder do subconsciente é levar informações da mente consciente para a mente inconsciente e, assim, influenciar ativamente nossa mente emocional a fazer o que é bom para nós.

Acessar seu subconsciente permite que você compreenda melhor sua mente emocional, traduza seus sentimentos e aprenda a escutar seu inconsciente. Existem muitas ferramentas que podem ajudar com isso, como terapia, PNL, hipnose e coaching. No entanto, as que melhor funcionaram para mim foram escrita, exercícios de respiração e meditação.

Quero me aprofundar um pouco nessas três ferramentas poderosas que podem ser facilmente incorporadas à sua vida diária para alinhar a mente racional e emocional:

A primeira habilidade é a escrita. Eu nunca gostei de escrever. Quando criança, erroneamente, considerava isso coisa de menina, porque infelizmente era isso que a nossa cultura ensinava.

Os filmes sempre mostram que as meninas têm diários, e os meninos têm bola e carrinhos.

Foi só bem mais tarde, aos 27 anos, que comecei a escrever com frequência, depois de entender os benefícios que isso poderia me trazer.

Minhas empresas estavam crescendo, eu estava começando a contratar mais pessoas e precisava de algum lugar para descarregar todos meus pensamentos. Nessa época, baixei um software chamado One Notion e comecei a documentar praticamente todos os meus dias.

Encontrei um framework chamado The Five Minute Journal, que prometia que, com apenas 5 minutos, eu conseguiria documentar meu dia. Basicamente, funciona assim:

Pela manhã, logo que eu chegava no computador ou pegava no celular, eu anotava:

– Três motivos pelos quais sou grato
– Três ações que tornariam meu dia muito bom se eu as fizesse
– Duas frases de afirmação

Pela noite, antes de sair do computador ou antes de ir para cama, eu anotava:

– Três coisas que fiz naquele dia que fizeram ele valer a pena
– Duas lições que eu aprendi
– O que eu poderia ter feito diferente ou melhor

Era só isso. Para ser sincero, levava mais do que cinco minutos, dependendo do dia, uns 10 ou 15 minutos, mas valia cada minuto. Comecei a notar que, nos dias em que eu não fazia isso, parecia que aquele dia tinha sido em vão, porque eu não tinha consciência do meu dia.

E aqui está a chave da escrita: gerar consciência.

Em 2018, comecei a escrever também no papel as coisas que me incomodavam emocionalmente, porque percebi que a escrita manual tem um poder de comunicação maior com o subconsciente.

Mesmo às vezes na correria do dia a dia, esquecendo de escrever, a consistência de escrever pelo menos de 4 a 6 vezes por semana aumentou muito minha consciência sobre o que eu fazia. A escrita é uma ferramenta poderosa para explorar nossos pensamentos, emoções e crenças. Escrever sobre nossas experiências e sentimentos nos ajuda a processar e entender melhor nossas emoções, além de ajudar a organizar nossos pensamentos, o que nos leva a um maior autoconhecimento e clareza.

Quando você lê sobre seu dia a dia de 1, 2 ou 5 anos atrás, começa a ter cada vez mais empatia consigo mesmo. Entende que nem sempre tinha todas as informações e às vezes nem mesmo a inteligência emocional naquele momento. Isso te conecta ainda mais com seu lado emocional.

A segunda é o breathwork, os exercícios de respiração. A respiração sincronizada, ou respiração consciente como aprendi com meu amigo Felipe Marx, é uma técnica que ajuda a equilibrar o sistema nervoso simpático (que ativa a resposta de luta ou fuga) e o sistema nervoso parassimpático (que promove a resposta de relaxamento). Ao sincronizar a respiração, você se torna mais consciente de suas emoções e pode identificar quando está sendo influenciado por emoções negativas ou irracionais. Isso permite que você se acalme e tome decisões com base na razão e na intuição, em vez de ser dominado pelas emoções. Se quiser saber mais sobre isso, aconselho a seguir Felipe Marx nas redes sociais, ele é o mais qualificado que conheço sobre o assunto, não é à toa que é conhecido como o cara da respiração.

A terceira é a meditação e aqui meditação não significa apenas a forma como você costuma imaginar, que é sentar em posição de lótus e com as mãos sobre as pernas e ficar ali parado. Meditação pode ser uma caminhada no parque, um esporte que te tire da mente por exigir que esteja presente. Pode ser também praticar mindfulness ao fazer algo como tomar banho, escovar os dentes ou comer estando 100% presente, sentindo a água escorrer pelo seu corpo, a escova tocar levemente a ponta da sua língua ou sentir o gosto de cada alimento que come.

Quando aplicamos essas ferramentas, alinhamos nossa mente racional com nossa mente emocional. Ambas começam a trabalhar juntas como uma só, em vez de uma contra a outra. Quando isso acontece, ganhamos controle sobre nossa mente e deixamos de ser barquinhos em um mar aberto sem direção, sendo levados para onde o vento soprar. Em vez disso, ganhamos controle da vela e começamos a usar o vento a nosso favor, direcionando-o para onde queremos ir.

Assim como o vento, nossos pensamentos e emoções podem mudar rapidamente, mas podemos ajustar nossa “vela mental” para obter o máximo de vantagem das circunstâncias presentes e direcionar nossos esforços na direção de nossos objetivos. Com o controle de nossa mente, podemos realizar esse alinhamento e conquistar as coisas que sempre sonhamos.

Agora que você está ciente de que é duas pessoas em uma, cabe a você alinhar essas duas partes.

Conte comigo nessa jornada, pois continuarei criando conteúdos que não só aumentam sua consciência e clareza, mas também compartilho ações práticas que me permitem ter uma vida mais significativa e com mais resultados, uma vida que merece ser vivida, uma vida lendária.

Este episódio chegou ao fim. Se você conhece alguém que ainda não percebeu que é duas pessoas em uma, compartilhe este conteúdo com essa pessoa. Esses conteúdos profundos são ainda mais valiosos quando compartilhados com alguém com quem você possa conversar sobre eles. Então, compartilhe com alguém que você sabe que pode falar sobre isso. Se não tiver ninguém assim ainda, não tem problema.

Um dia, essa comunidade de lendários será tão grande que não faltará pessoas para conversar sobre assuntos como este aqui.

Nos vemos no próximo episódio!

Escrito por,

Alan Nicolas

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