#014 – Á Beira do Abismo

Se olhares por muito tempo dentro de um abismo, o abismo acabará por olhar dentro de ti. – Friedrich Nietzsche

A busca pelo autoconhecimento e entendimento da realidade pode levar a uma confrontação com aspectos sombrios da existência, e isso pode ter efeitos duradouros naqueles que se aventuram a sondar essas profundezas.

Há cerca de dois anos, comecei uma investigação pessoal profunda sobre a existência, a realidade e o que está por trás de tudo isso.

Afinal, a vida possui muitas camadas. A cada camada de superficialidade que conseguimos identificar, desbloqueamos acesso a uma camada mais profunda e sofisticada.

É como se vivêssemos em um labirinto e, ao descobrir a saída deste labirinto, nos pegássemos em um novo labirinto muito maior e mais complexo.

Mas, passando muito tempo nesse processo, eu me vi enfrentando as partes mais profundas e sombrias de mim mesmo.

E eu percebi o que Nietzsche já havia alertado:

O abismo estava me olhando de volta.

Neste episódio, vamos conversar um pouco sobre o motivo da minha ausência nos últimos dois anos e sobre os perigos e as vantagens de questionar a realidade.

Então, vamos lá?

Um homem bom que luta contra o mal deve cuidar-se para não tornar-se mal.

Nessa minha exploração pelo significado intrínseco na realidade, e não aquele atribuído por nós coletiva ou pessoalmente, eu fui chegando cada vez mais próximo do niilismo, a filosofia de que a vida não tem sentido e o mundo está aqui sem motivo.

Ou seja, todo significado é atribuído por nós ou outras pessoas em uma realidade sem sentido, propósito ou motivo. E existe muita verdade nisso.

Grande parte das nossas vidas é recheada de buscas com propósitos criados por aqueles que gostariam de nos vender algo ou que gostariam de obter poder sobre nós.

Meu intuito dois anos atrás foi desvendar o que existe de real por trás de tantas camadas superficiais de iscas e armadilhas criadas não só pela nossa doente sociedade, mas também pela nossa mente.

Inicialmente me aprofundei no niilismo, de repente Nietzsche e Schopenhauer se tornaram amigos íntimos meus, onde muito do que escreveram ressoava em mim.

Cheguei até a escrever alguns conteúdos sobre o que estava aprendendo com eles, mas pensei: se eu não estou tendo capacidade de lidar com alguns sentimentos negativos que esses conhecimentos me geram, será que vale a pena compartilhá-los?

Então guardei para mim e resolvi explorar a realidade de um ângulo diferente.

Entendendo que a realidade é algo que só experimentamos através da nossa mente e que nossos mecanismos de interação com ela são os nossos sentidos, logo a realidade como a experienciamos é limitada, porque nossos sentidos são falhos.

Só conseguimos enxergar um espectro extremamente limitado de todas as cores que existem no mundo. O olho humano é sensível à radiação eletromagnética na faixa de 400 a 700 nanômetros, o que é menos de 1% do espectro eletromagnético que nós humanos conhecemos. Isso significa que somos possivelmente cegos a 99% do que está acontecendo à nossa volta.

Vai saber quantas coisas somos incapazes de ver no nosso dia a dia que mudariam completamente a nossa realidade.

Boa parte do mundo funciona como funciona baseado no nosso sentido da visão, mas esse sentido é extremamente limitado, mesmo se você tiver uma visão considerada 100% saudável.

O mesmo acontece com nossa audição, nosso paladar, nosso tato, além de vários sentidos que nem possuímos como a ecolocalização usada por morcegos, golfinhos e várias espécies de peixes e pássaros.

Algumas aves podem sentir o polo magnético da Terra e se guiar por ele, alguns peixes, como os tubarões, têm células especializadas em seus corpos que podem detectar campos elétricos. Imagine poder ter uma bússola interna e ainda poder sentir campos elétricos.

Isso tudo eu só falei para ilustrar o quão pouco conseguimos experimentar a realidade como ela é. Somos limitados pelo nosso equipamento biológico que ao longo de milhões de anos se desenvolveu com um único propósito: permitir que tivéssemos os estímulos necessários para sobreviver.

Se não conseguimos ver ou sentir a realidade que está à nossa volta como ela realmente é, talvez possamos investigá-la através da mente, afinal é ela que interpreta a realidade. Foi isso o que pensei ao ler relatos de Yogis que passaram anos e anos meditando.

Então eu resolvi me aprofundar um pouco mais nos estudos da meditação e cheguei até mesmo a fazer uma mentoria por meses com um monge.

Sim, eu sei, eu sou meio maluco, mas eu queria entender o que existe por trás de tudo isso. E agora que eu tinha tempo e independência financeira, eu poderia ir atrás dessa minha curiosidade.

Tive experiências nesse meio que posso dizer que foram, no mínimo, diferentes e curiosas, mas isso posso contar em outro momento.

O importante é que eu percebi que, mesmo conseguindo atingir estados de consciência superiores, levaria uma vida inteira e provavelmente não conseguiria atingir o nível que esses mestres que eu li atingiram.

Então, decidi seguir outro caminho para experimentar um estado de não-mente. Um desses caminhos era através da DMT, uma substância que é produzida em pequenas quantidades em nosso cérebro em alguns momentos da vida, como antes de morrer, mas que em maiores concentrações pode alterar nosso estado de consciência.

Uma forma segura de ter essa experiência seria através de uma sessão xamânica com ayahuasca. E assim o fiz.

Essa experiência me mostrou que existe um mundo desconhecido por grande parte de nós e me fez reconsiderar muitas certezas que eu tinha.

Agora, eu tinha mais dúvidas do que respostas.

E eu não sabia como compartilhar tudo isso sem parecer um maluco.

Então, decidi estudar ainda mais sobre a consciência humana e como interpretamos a realidade.

Como falei no episódio 6, nossa realidade é uma percepção de nossas lentes ideológicas. Mas será que somos apenas observadores que podem às vezes trocar intencionalmente essas lentes ou somos também agentes de transformação dessa realidade?

Quanto mais eu me aprofundava, mais perguntas eu tinha.

Comecei a participar de eventos de meditação e respiração para alteração de estado de consciência, alguns com um viés mais espiritual, mas nesse ponto, entendendo minha ignorância, aprendi a ser mais humilde sobre minhas opiniões.

Mas como sempre tive interesse em entender o que grandes mentes tinham a dizer sobre isso, também comecei a ler livros e entrevistas de grandes mentes que chegaram à mesma conclusão: a realidade como a conhecemos é uma ilusão.

O Dr. Donald Hoffman até mesmo escreveu um livro com esse nome.

Anil Seth, um professor de neurociência cognitiva e computacional, mostrou através de vários experimentos como nosso cérebro alucina nossa realidade.

E não só a realidade, mas também a criação de um “Eu” separado, a ilusão do ego.

Christopher Langan, o homem com o QI mais alto do mundo, concebeu um Modelo Teórico-Cognitivo do Universo que tenta explicar a conexão entre a mente e a realidade. Durante dias, eu vi e revi várias entrevistas dele para tentar entender esse modelo.

Basicamente, Langan acredita que o universo é como uma mente muito inteligente, capaz de criar e processar informações sobre si mesma. Ele acredita que a mente humana é apenas uma pequena parte dessa mente maior e que podemos usar nossa inteligência para entender melhor o mundo ao nosso redor.

Isso significa que, de acordo com ele, todas as coisas no universo – desde as estrelas e planetas até as células e os átomos – são como pensamentos na mente do universo. Esses pensamentos estão todos interconectados, e juntos eles formam o que chamamos de realidade.

O que é mais maluco é que eu já tinha lido sobre isso e tinha sido escrito há mais de 3.000 anos atrás por Hermes Trismegisto.

O princípio do mentalismo é uma das sete leis universais que formam a base da filosofia hermética. Esse princípio afirma que tudo o que existe é uma expressão da mente universal e que a mente é a fonte de toda a criação.

Algo escrito há milhares de anos atrás sendo agora defendido pela pessoa considerada a mais inteligente do mundo com QI entre 195 e 210. Para você ter uma ideia do que é isso, o QI de Einstein era estimado em 160 e a média do QI brasileiro é de 87.

Mas não é só Langan que defende isso no meio científico, como o filósofo e cientista Bernard Kastrup, o psicólogo cognitivo Donald Hoffman, o físico John Wheeler, entre muitos outros.

E filósofos como o alemão Hegel também já argumentaram que a realidade é uma expressão da mente e que a mente é a fonte de toda a criação.

E tudo isso parece loucura, mas faz muito sentido à medida que você começa a compreender e a conectar as coisas. A própria ideia de Deus que Nietzsche matou começa a ressuscitar com uma nova roupagem como essa mente universal defendida por grandes mentes da nossa época.

Isso tudo é fantástico, mas questionar a realidade a esse nível tem um preço, poucas pessoas querem falar sobre isso, e aos poucos comecei a me isolar.

Não só por isso, mas também porque toda a rede de contatos que eu criei ao longo dos anos foi com empreendedores, principalmente dentro do marketing digital, e eu não estava mais afim de falar sobre funis, copy ou estratégias que estavam funcionando no momento.

Tentei voltar algumas vezes com o podcast, mas sempre surgia uma desculpa:

– Preciso investigar mais isso antes de falar sobre.
– Como isso vai ajudar alguém? Será que não vai deixar a pessoa perdida?
– Farei mais bem ou mais mal ao compartilhar isso?

Percebi também que o fato de não estar envolvido com negócios me fazia questionar se eu era um cara de ação + filosofia. Sempre me enxerguei como alguém que consegue honrar as verdades com ações, mas não me sentia autêntico se não estivesse em um campo de batalha, no mundo “real”, onde lido com pessoas no trabalho e preciso fazer a empresa dar certo.

Como sempre houve muitas pessoas querendo ser sócias minhas, talvez pelo meu histórico de resultados com minhas empresas, eu resolvi aceitar algumas oportunidades.

Comecei diversos projetos com extrema empolgação, investindo tempo e dinheiro, mas por diversas vezes os projetos ou não iam para frente ou chegavam em um patamar muito abaixo dos meus parâmetros de sucesso de um negócio.

Eu começava com empolgação, mas logo voltar para aquele mesmo jogo não me estimulava mais. Era um peso, um fardo.

Continuei insistindo e continuei perdendo tempo, dinheiro e credibilidade comigo mesmo. Até que resolvi parar, fazer uma pausa não só do empreendedorismo, mas também dos estudos. Durante meses, me propus a não ler nenhum livro. Acabei lendo alguns, mas poucos. Ocupei meu tempo com esportes, escrever e colocar em dia os jogos que não joguei em anos e anos que trabalhei de domingo a domingo.

Nas primeiras semanas foi bom, me envolvi com reformas e atividades fora da minha zona de genialidade, mas que me colocam em contato com a natureza e o dia a dia comum, digamos assim.

Isso me fez bem, mas aos poucos uma antiga conhecida começou a se fortalecer dentro de mim: uma sombra, uma tristeza.

Tentei calar essa tristeza com distrações, viagens e coisas, mas como um buraco negro ela parecia se alimentar de tudo isso.

Ao receber convites para voltar a empreender, comecei a achar cada vez mais difícil sentar no escritório na frente do computador. Eu não tinha energia e já estava esgotado ao meio-dia.

Sem energia, fui deixando de lado vários hábitos saudáveis, como escrever, meditar, ler e me exercitar, e muitas vezes os substituí por doses baratas de dopamina, como Netflix ou TikTok.

Sem entender, eu estava usando o efeito composto ao contrário, destruindo minha capacidade de tomada de decisão, o que levou a decisões pouco pensadas e mais frustrações.

Isso minou minha confiança ao ponto de começar a ter crises de ansiedade e dificuldades para dormir. Não entendi o que estava acontecendo comigo, mas continuei forçando, como uma criança tentando encaixar uma peça em um lugar que não encaixa, eu tentei me encaixar de volta em uma rotina de alta performance, tentando desempenhar vários papéis em mais de um negócio.

E apesar de saber exatamente o que fazer, a vontade e a energia começaram a ser cada vez mais escassas. As crises de ansiedade se tornaram crises de pânico e a dificuldade para dormir começou a gerar sintomas físicos.

Foi quando entendi que precisava de ajuda.

Consegui parar e fazer uma autoanálise para entender o que estava acontecendo dentro de mim. Entendi as principais causas psíquicas de dor e desespero, mas meu sistema nervoso simpático já estava viciado em estar em estado de alerta, liberando cortisol no meu corpo.

Comecei a estudar a ansiedade e a depressão.

E entendi que há anos já sofria disso sem entender o que era.

Aquela vozinha que eu tinha derrotado para iniciar o Vida Lendária tinha vencido novamente e agora ela tinha um nome.

A depressão, o mal do século 21, sempre foi estranha para mim.

Confesso que sempre olhei para pessoas com depressão e pensei: “Tá, mas é só se cuidar, só se mexer um pouco”.

Muitas vezes, pensei que a depressão poderia ser resolvida com uma simples mudança de atitude, como se ela fosse um problema de vontade, preguiça ou até mesmo falta de coragem para enfrentar um problema.

Quando olhamos para alguém doente fisicamente, é fácil de compreender, mas não temos a mesma facilidade quando alguém sofre de uma debilitação pela depressão.

Porque a depressão é um estado quase inimaginável para alguém que não a conhece na pele.

A primeira coisa que vai embora é a felicidade.

O mundo fica mais cinza, as coisas que antes davam alegria e prazer agora não dão mais. Por mais que você tenha 1 milhão de motivos para ser grato como eu tenho, é como se tudo isso encolhesse e os problemas e os medos aumentassem de tamanho.

Você se sente vazio, sem energia para fazer o básico. É como se parte de você estivesse desaparecida.

Sua mente é sugada a tal ponto que você parece um total imbecil, principalmente para si próprio. Assuntos que antes eu falava com naturalidade comecei a ter dificuldade, o raciocínio ficou mais lento e comecei a esquecer frequentemente das palavras.

E apesar de saber conscientemente que grande parte desses problemas e medos são invenções da minha mente, meu inconsciente não sabe e age no meu corpo como se eles fossem reais, me deixando sempre em estado de alerta, sem conseguir me concentrar ou pegar no sono.

Eu sei o que posso fazer para melhorar, conheço técnicas de respiração que aprendi com meu amigo Felipe Marx, conheço técnicas de auto-hipnose, técnicas de PNL para ressignificar, eu tenho uma caixa de ferramentas muito ampla. Mas sinto como se eu fosse um médico que conhece o problema, mas não consegue operar a si mesmo sozinho.

Mas, por mais absurdo que isso possa parecer, sou grato por estar passando por isso. Só assim eu posso entender na pele o que é ter ansiedade e depressão ao ponto de debilitação, algo que eu não entendia antes.

Hoje, a depressão é a segunda maior causa de incapacidade em todo o mundo e as estimativas de vários órgãos internacionais da saúde estimam que a depressão estará em primeiro lugar até 2030.

A depressão é uma epidemia moderna. É uma doença que afeta pessoas em todo o mundo, independentemente da idade, raça ou classe social. E é uma doença que está afetando cada vez mais pessoas a cada ano.

E eu espero, através da minha transformação e superação pessoal, poder ajudar outras pessoas também a superar a ansiedade e a depressão.

Nunca houve uma era em que as pessoas estivessem tão ansiosas quanto agora. E nunca houve uma era em que as pessoas tivessem tantos motivos para estar ansiosas. Estamos vivendo em uma época de mudanças rápidas e imprevisíveis, e é extremamente difícil acompanhar o ritmo.

A tecnologia está transformando o mundo de maneiras que muitos de nós não conseguimos entender ou controlar, e isso pode ser extremamente estressante.

Além disso, a mídia que se sustenta através de anúncios sabe que notícias positivas não chamam atenção, então somos bombardeados todos os dias por imagens de violência e tragédia, parecendo que tudo no mundo está dando errado.

Já as redes sociais são projetadas para nos manter conectados o máximo possível, usando algoritmos extremamente sofisticados que usam nosso sistema límbico para nos tornarmos escravos dos nossos telefones, sempre checando se há alguma coisa nova para largar doses vazias de dopamina.

Vivemos em um mundo moderno e, embora tenhamos feito grandes avanços em termos de tecnologia e conhecimento científico, nossas emoções e instintos básicos permanecem muito semelhantes aos dos nossos antepassados das cavernas.

Embora possamos ter desenvolvido maneiras mais complexas de lidar com nossas emoções, elas ainda são influenciadas pelas mesmas coisas que eram importantes para a sobrevivência dos nossos antepassados. É importante entender isso para poder lidar com nossas emoções de maneira eficaz e saudável em um mundo moderno e complexo.

Nosso corpo não consegue distinguir um medo real de um medo psíquico.

Quando sentimos medo, nosso corpo libera uma série de substâncias químicas, como adrenalina e cortisol, que ativam nossa resposta de luta ou fuga. Essa resposta é uma reação instintiva e automática que nos prepara para lidar com uma ameaça percebida, seja ela real ou imaginária.

Por isso, viver no mundo moderno tem se tornado um desafio cada vez maior para nós que possuímos um sistema de ensino industrial, que não nos prepara para o mundo moderno em que vivemos, e emoções paleolíticas.

Mas existe um caminho para não só conseguir suportar, mas prosperar nesse mundo moderno e com saúde física e mental.

Recentemente, tive um insight assistindo a um documentário na Netflix chamado Sem Limites, onde Chris Hemsworth, aquele ator que faz o papel de Thor, passa por diversas provas físicas e mentais, uma delas é uma prova de afogamento.

Essa prova faz parte do treinamento do grupo de elite de operações especiais da Marinha dos Estados Unidos, onde suas mãos são amarradas atrás das costas, seus pés são amarrados juntos e você é jogado em uma piscina com cerca de 3 metros. Seu objetivo é sobreviver por cinco minutos. E a maioria das pessoas que tenta a prova de afogamento falha.

Mas algumas pessoas conseguem passar na prova e fazem isso porque entendem duas lições contraditórias. A primeira lição da prova de afogamento é paradoxal. Quanto mais você luta para manter a cabeça acima da água, mais provável é que você afunde e se afogue.

Isso porque o truque para a prova de afogamento é realmente deixar-se afundar.

Como assim, Alan?

A piscina tem 3 metros, com as mãos amarradas atrás das costas e os pés também amarrados, mesmo se você for um especialista em natação, você não vai conseguir se manter com a cabeça fora da água, por mais que tente.

Você precisa se permitir afundar até o fundo da piscina e depois se impulsionar usando as pernas do fundo para voltar à superfície, onde ganha só o tempo suficiente para outra respiração, e repete o ciclo de novo. Então, de certa forma, a prova de afogamento não exige que você tenha uma força sobre-humana ou uma resistência insana, até porque o peso do seu corpo é drasticamente reduzido dentro da água.

A verdade é que você nem precisa saber nadar. Pelo contrário, a prova de afogamento realmente exige que você não tente nadar. A segunda lição da prova de afogamento é que quanto mais você entra em pânico, mais provável é que você queime oxigênio e energia, e mais provável é que você desmaie.

Na nossa vida não é tão diferente, nessa sociedade que cada vez exige mais velocidade, mais comprometimento, mais resultados, mais comparação, é como se todos nós estivéssemos nessa piscina juntos.

Estamos todos lutando pela sobrevivência e quanto mais esforço fazemos, muitas vezes mais nos afogamos.

Às vezes, a vida só exige que reconheçamos as circunstâncias em que nos encontramos, reconheçamos nossa pequenez e que não podemos controlar tudo.

Mas, ao invés disso, nós ficamos nos debatendo, fazendo mais e mais coisas, buscando fora aquilo que só vamos conseguir encontrar dentro.

Como eu mencionei através de vários exemplos no episódio 10, a vida é contraintuitiva.

Desejar uma experiência positiva é, em si, uma experiência negativa, e a aceitação de uma experiência negativa é, em si, uma experiência positiva. E isso se aplica à maioria, senão a todas, as nossas questões de saúde mental e relacionamentos. Seja o desejo de sentir mais felicidade, confiança, controle, satisfação, segurança, novidade, todas essas coisas.

Ao desejá-las, simplesmente nos afastamos ainda mais delas. É querendo permanecer na superfície de nossa satisfação que só nos faz mergulhar ainda mais fundo na água. Essas experiências psicológicas internas existem em uma abordagem contraintuitiva porque são tanto a causa quanto o efeito da mesma coisa: a mente.

Quando você deseja felicidade, sua mente é tanto a coisa que deseja quanto a coisa desejada. Quando se trata desses objetivos elevados e abstratos, nossa mente é como um cachorro que, depois de perseguir e capturar com sucesso todas as outras coisas em sua vida, decidiu girar em torno de seu próprio rabo e tentar capturá-lo.

E por que não? Perseguir coisas funcionou para tudo o mais na vida, não é?

Por que não funcionaria para felicidade, confiança ou segurança?

Mas um cachorro nunca pode pegar o próprio rabo. Quanto mais ele persegue, mais o rabo parece fugir. Isso acontece porque o cachorro não tem a perspectiva de entender que ele e o rabo são a mesma coisa.

O jogo muda completamente quando você entende que sua mente é uma ferramenta maravilhosa, mas que passou sua vida perseguindo muitas, muitas coisas, e basta ensiná-la a parar de perseguir o próprio rabo. Mostrar que a única maneira de alcançar a superfície é deixar-se afundar. E como fazemos isso? Fazemos isso abrindo mão do controle.

Não porque você se sinta impotente, mas porque decidiu deixar de lado coisas que estão além do seu controle. Você decide aceitar que às vezes as coisas não vão sair como você quer, que as pessoas nem sempre serão quem você imagina, que nem sempre você estará bem.

Você decide aceitar que a maioria das coisas que você faz na vida resultará em fracasso. E não só isso está bem, mas aceitar isso é a única maneira de voltar à superfície, respirar…

… e fazer tudo de novo.

Eu entendi que eu não precisava estar necessariamente na minha melhor fase para poder voltar. Eu só precisava respirar, aceitar e compartilhar, compartilhar que mesmo alguém como eu que estuda e busca desvendar a mente também pode ser refém dela.

Compartilhar que às vezes está OK não estar bem.

Compartilhar que buscar ajuda não é sinal de fraqueza.

A vida não é fácil, mas ela fica melhor quando temos alguém para nos ajudar. E eu espero que de alguma forma este episódio tenha te ajudado.

Este episódio vai ficando por aqui, estou gravando-o no dia 24/03/2023, meu aniversário de 33 anos, e sinceramente poder escrever e gravar este episódio é o maior presente que eu poderia ter.

Estou feliz de ter voltado e como você percebeu, nós temos muita coisa para colocar em dia.

Continuarei aqui questionando a realidade, pois foi isso que me trouxe até aqui, e quero, se possível, te ajudar a questionar a sua também.

Se este conteúdo está te ajudando, então compartilhe-o com seus amigos, seus familiares, as pessoas que você acredita que podem se beneficiar deste conteúdo.

Obrigado por compartilhar seu tempo precioso comigo e com este conteúdo.

E te espero no próximo episódio.

Referências mencionadas incluem:

– Friedrich Nietzsche: filósofo alemão do século XIX, conhecido por suas obras sobre moralidade, religião e filosofia em geral.
– Hermes Trismegisto: figura mítica que supostamente fundiu a sabedoria egípcia e grega, e considerado o fundador da filosofia hermética.
– Dr. Donald Hoffman: professor de ciência cognitiva da Universidade da Califórnia, Irvine, que defende a ideia de que a realidade é uma ilusão criada por nossas mentes.
– Anil Seth: professor de neurociência cognitiva e computacional da Universidade de Sussex, que também defende a ideia de que nossa percepção da realidade é uma ilusão criada por nossos cérebros.
– Christopher Langan: autodidata e teórico que propôs uma teoria que explica a conexão entre a mente e a realidade.
– Bernard Kastrup: filósofo e escritor que defende a ideia de que a mente é a base da realidade.
– John Wheeler: físico teórico que cunhou a frase “É o observador que cria a realidade”.
– Hegel: filósofo alemão do século XIX que propôs uma filosofia idealista que enfatiza a mente como a fonte da realidade.

No entanto, é importante lembrar que algumas das ideias mencionadas neste texto podem ser controversas ou não ter base científica sólida. Cada leitor é encorajado a pesquisar e avaliar as fontes para formar suas próprias opiniões.

Escrito por,

Alan Nicolas

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